LOVE MR FORUM
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.

LOVE MR FORUM

Para todos que amam a atriz Michelle Rodriguez, um espaço para discussão entre fãs e admiradores
 
InícioÚltimas imagensProcurarRegistarEntrar

 

 O Diário da Lady (NC-17)- Fanfiction inspirada em Bloodrayne. SPOILERS!

Ir para baixo 
2 participantes
AutorMensagem
Renata Holloway
Fãs
Fãs
Renata Holloway


Mensagens : 96
Data de inscrição : 12/01/2010
Idade : 41
Localização : Pandora

O Diário da Lady (NC-17)- Fanfiction inspirada em Bloodrayne. SPOILERS! Empty
MensagemAssunto: Re: O Diário da Lady (NC-17)- Fanfiction inspirada em Bloodrayne. SPOILERS!   O Diário da Lady (NC-17)- Fanfiction inspirada em Bloodrayne. SPOILERS! Icon_minitimeQua Mar 17, 2010 9:40 am

Capítulo 4- Improvável destino

- Aqui está a garota, Vladimir!- disse Andrei quando seu cavalo se aproximou da montaria do líder de Brismstone.

- Katarin... – Vladimir falou com ela e meneou a cabeça numa pequena mesura.

O gesto pareceu estranho a Katarin. Em todos os anos em que vivera em Brimstone, ela nunca vira Vladimir se curvar para ninguém, principalmente para ela e em especial depois da traição que cometera. Ela viu Sebastian em seu cavalo, ao lado de Vladimir e segurando as rédeas de sua égua Jocasta. Ficou aliviada em ver o animal tão querido, mas ao mesmo tempo preocupada porque Sebastian tinha sido pego. Agora ele deveria estar encrencado. Ele olhou para ela e seu olhar era de pura angústia.

- Sebastian, eu não acredito que fez isso!- bradou Vladimir. – O que será que está acontecendo agora com todas as pessoas em quem confio em Brimstone? Ficam todos me traindo pelas costas!

- Vladimir, eu... – começou a dizer Sebastian, mas Katarin o cortou:

- Eu ameacei matá-lo para que ele me ajudasse a fugir, Vladimir.- disse ela, com a voz mais fria e confiante que conseguiu. – Tentei cortar a garganta dele, e é por isso que estou aqui!

Vladimir olhou para Sebastian e seu rosto parecia chocado.

- Isso é verdade, Sebastian?

- Não, Vladimir, fui eu quem...- tentou desmentir Sebastian, mas Katarin o cortou outra vez.

- Sebastian, eu não acredito que mesmo depois de tudo o que eu fiz você ainda quer me proteger? Qual é o seu problema?

Sebastian calou-se e Vladimir voltou o olhar novamente para Katarin.

- Vamos voltar para Brimstone agora mesmo! Meu coração está ficando cansado de tantas decepções, Katarin!

Um dos homens de Brimstone se aproximou com uma corda nas mãos e Vladimir deu a ordem:

- Amarre as mãos dela e a coloque em seu cavalo!

Andrei franziu o cenho e disse:

- Nada de cordas! Eu não quero os pulsos dela machucados!

Katarin lançou um olhar de dúvida para ele, por que se importava afinal se a tinha entregado de volta para Vladimir? Naquele momento ela pensou que a única razão para que ele conhecesse o nome dela era que ele não passava de um mercenário contratado por Vladimir para encontrá-la. Mas onde Vladimir teria encontrado aquele homem em tão pouco tempo?

Ele não se parecia nem um pouco com os mercenários que costumavam encontrar em suas andanças pela escória da Romênia. Aquele homem se parecia mais a um nobre do que com um homem que matasse pessoas para sobreviver. Ele era saudável, bonito, forte, limpo e cheiroso, o que era uma coisa rara de se encontrar. Katarin estava acostumada a torcer o nariz para o fedor dos homens que conhecia, incluindo os soldados de Brimstone. Mas aquele homem cheirava a um tipo de limpeza que ela não se lembrava de sentir em muito tempo.

- Se ela não for amarrada, fugirá!- disse o homem que segurava a corda.

- Se você não tem força para levá-la, é melhor que eu a escolte até Brimstone!- falou Andrei.

- Prefiro ir com Vladimir!- disse Katarin de repente. – Se preciso mesmo ter um algoz, que seja ele. Eu nem o conheço, mercenário barato!

Andrei deu uma gargalhada.

- Então pensa que eu sou um mercenário?

E dizendo isso, ele ordenou a seu cavalo:

- Conor, avante!

O cavalo galopou depressa para longe da comissão inquisidora que queria tirar a vida de Katarin, ou pelo menos assim ela pensava. O cavalo de Andrei galopava tão rápido quanto o vento, mas ela não se sentiu insegura porque ele mantinha uma mão fortemente presa à cintura dela.

Quando eles entraram no barco para voltar à Brimstone, Katarin ficou no porão, sendo mantida sob vigilância. Em Brimstone, o próprio Vladimir a conduziu até seus antigos aposentos ao invés de levá-la de volta para a cela.

- Vladimir, o que está acontecendo?- ela indagou diante da porta de seus aposentos.

Vladimir não respondeu, abriu a porta do quarto dela e disse:

- Pedi que Florina lhe preparasse um banho e lhe trouxesse roupas limpas. Portanto banhe-se e troque de roupa. Ela virá logo com o seu jantar.

Katarin o encarou e seus olhos azuis estavam tristes.

- Fico me perguntando por que simplesmente não me enforcam logo ao invés de prolongar essa maldita espera?

- Tudo a seu tempo, Katarin.- disse Vladimir enigmático, trancando a porta depois que Katarin entrou no quarto.

Sozinha no aposento, ela viu que havia vestes limpas em cima da cama e uma tina com água morna e pétalas de rosa pronta para que ela se banhasse. Ela sentou-se na cama e tirou as botas, enrolando a calça de couro acima dos tornozelos antes de enfiar os pés na água e relaxar.

De repente, ela viu que a trouxa que estava amarrada ao lombo de Jocasta nas montanhas com seu diário e as coisas que Sebastian tinha conseguido levar para ela também estava em cima da cama. Alguém tinha levado para lá.

Katarin ficou feliz em ver seu diário de novo porque tinha coisas que precisava escrever antes que o destino improvável mudasse de novo como o vento.

Brimstone (Inacreditavelmente), ainda 18 de agosto de 1708.

Hoje deveria ter sido o dia de minha morte, mas inexplicavelmente ainda estou aqui e meu coração continua batendo. Para que propósito eu ainda não sei. Sebastian me ajudou a fugir, mas disse que não pretendia partir comigo. Achei que ele me amava, mas ele confessou amar Rayne e eu o estou odiando agora. Nos beijamos novamente, mas não foi como eu esperava. Senti-me um pouco idiota porque não sabia como mover meus lábios junto aos dele. Acho que isso o desestimulou e ele acabou se afastando de mim. Talvez não me ache atraente. Não sei! Eu nunca tinha tentado seduzir um homem realmente até o dia de hoje. Sempre estive ocupada demais matando vampiros para me preocupar com namoros.

Mas o homem que conheci esta noite me deixou intrigada. O maldito mercenário. Vladimir diz que o dinheiro em Brimstone anda escasso, mas arrumou dinheiro para pagar um mercenário para me caçar e me trazer de volta para cá. Ainda não compreendi por que isso está acontecendo. Por que me fazer esperar tanto pela minha morte?

Eu queria saber o nome daquele homem. Ele não parece um mercenário. Conheci mercenários. Eles sempre são malcheirosos, barrigudos, com bafo de álcool, dentes amarelados e maneiras rudes. Este homem é educado, cheiroso, tem um hálito gostoso e se porta como um cavalheiro, tem até o corpo de um guerreiro. Mas não deixa de ser o meu algoz. Será que ele me achou atraente? Notei que ele olhava para os meus seios enquanto estávamos cavalgando, ele parecia admirar o meu corpo de um jeito que nunca vi nenhum homem fazer antes.

Katarin largou o diário e despiu-se. Não pudera banhar-se como gostaria enquanto estivera na prisão e queria compensar sua higiene precária com um longo banho. Mas antes de entrar na tina, ela mirou-se em frente ao espelho, completamente nua. Observou com atenção seu próprio corpo. Gostava do tom bronzeado de sua pele, mas seus seios eram pequenos demais, sua cintura estreita, os quadris absurdamente largos e as panturrilhas exageradas. Pelo menos aquela era a visão que tinha de si mesma.

Florina entrou nos aposentos de Katarin durante aquele momento de contemplação que ela fazia de si mesma. Trazia nas mãos um prato feito de barro com a comida ainda quente dentro.

- Katarin... – ela chamou suavemente e Katarin voltou-se para ela sem pudores. Florina sempre cuidara dela e ela estava acostumada àquele tipo de intimidade.

- Diga-me Rina, pareço uma mulher atraente?

- Você ainda nem é uma mulher, minha menina.- disse Florina, colocando a refeição sobre uma pequena mesa para ajudá-la com o banho.

- Não sou mais uma menina!- Katarin retrucou.

- Mas você ainda não foi tocada por um homem, por isso ainda não é uma mulher.- Florina explicou enquanto Katarin se abaixava na tina de água.

A velha senhora começou a molhar os cabelos dela para lavá-los.

- Você não tem com o que se preocupar, é linda demais. Mais bonita que todas as outras moças de Brimstone. Elas invejam você. Nenhuma delas possui olhos como os seus. Mas por que está preocupada com isso justamente agora? Por acaso tem algum moço bonito em quem esteja interessada?

- Talvez.- Katarin respondeu dando de ombros. – Não que eu vá viver muito para saber quem ele é.

- Do que está falando?- retrucou Rina. – Vladimir não vai deixar que a enforquem, eu tenho certeza disso. Está viva não está? Eu disse a você. Mas quem é o cavalheiro de quem você fala? Por favor, não me diga que é Sebastian.

Katarin balançou a cabeça negativamente e indagou:

- Quem é o homem que Vladimir contratou para me caçar nas montanhas?

- Que homem?- perguntou Florina de repente muito interessada. – Vladimir contratou alguém para encontrá-la? E como você foi parar nas montanhas, menina?

- Perguntas demais, querida Rina.- disse Katarin sentindo os dedos de Florina massageando-lhe a cabeça e tirando um pouco da tensão que ela vinha sentindo desde sua condenação.

- Me conte do começo então.- disse ela. – Ouvi dizer que ameaçou Sebastian para fugir, mas é óbvio que eu não acreditei nessa história.

- Sebastian me ajudou a fugir, mas eu não preciso dizer que deve guardar esse segredo como a sua própria vida, não é Rina?

- Não se preocupe quanto a isso.- disse Florina. – Nenhum dos rapazes acreditaria que Sebastian ousaria desafiar Vladimir e tentaria te ajudar a fugir sem que você o ameaçasse. Estão fazendo piadas sobre ele em Brimstone. Você sabe como os outros homens o invejam por ele ser o preferido de Vladimir. Não perdem a oportunidade de arranjar maneiras de caçoar dele e rebaixá-lo.

Por alguns segundos Katarin pensou em contar à Florina o que havia acontecido entre ela e Sebastian nas montanhas, mas preferiu guardar aquilo para si. Já se sentia humilhada o bastante por Sebastian tê-la rejeitado e preferido ficar com Rayne, uma vampira. Damphir ou não, Rayne ainda era uma vampira.

- Você ficou calada de repente... – Florina comentou retirando o excesso de água dos longos cabelos dela, torcendo-os levemente.

- Só estou tentando entender o que Vladimir está pretendendo.

- Como eu disse, ele não irá deixá-la ir à forca, meu anjo. Ele deve ter outros planos pra você. Foi ele quem me mandou preparar seu banho, lhe trazer comida e vestes limpas.

- O homem que me escoltou até aqui ainda está com ele?- Katarin perguntou.

- Eu ainda não vi esse homem, menina. Você me parece interessada demais no homem que você afirma que foi pago por Vladimir para caçá-la!

- Mantenha os amigos perto, os inimigos mais perto ainda.- filosofou Katarin.

- Do jeito que você fala dele, não parece estar falando de um inimigo.- disse Florina pegando uma toalha para Katarin.

Ela ergueu-se da tina e pegou o pano macio das mãos dela, enxugando-se devagar antes de dizer:

- O que você quer dizer com isso?

Florina sorriu.

- Já notou que desde que entrei neste quarto você não para de falar nesse homem? Se ele é um mercenário, por que seria tão diferente de tantos outros que já vieram à Brimstone?

Katarin deu de ombros e largou a toalha sobre a cama antes de pegar sua roupa íntima para vestir. Era muito diferente das vestes de baixo das damas convencionais. Como costumava usar calças de couro ou de tecidos apertados, perfeitas para cavalgar, ela adaptara suas roupas íntimas para que se adequassem às suas vestes. Portanto, a única roupa íntima que costumava usar por debaixo de seus trajes de guerreira era uma peça pequena feita de algodão e rendas, que ela mesma havia desenhado. Florina a ensinara a costurar, mas Katarin o fazia apenas para si mesma. Ela não queria que os outros guerreiros soubessem disso e caçoassem dela. Gostava de ser tratada como igual entre eles, embora fosse a única mulher que fizesse parte do atual exército de Brimstone.

- Ele é diferente!- insistiu Katarin. – Se você o visse, saberia do que estou falando.

- Pois então preciso mesmo vê-lo!- concordou Florina. – Concordo com você que o comportamento de Vladimir está estranho. Eu sei que ele não pretende mesmo enforcá-la, mas...

- Mas o quê, Rina?- indagou Katarin vestindo uma bermuda curta, na altura dos joelhos, feita de linho, preta, também uma das criações dela.

- Quando Vladimir mandou que eu viesse até aqui e cuidasse de você, ele também me pediu que lhe dissesse para arrumar suas coisas. Tudo o que quisesse levar.

- Levar? Mas levar para onde?- indagou Katarin sem compreender. – Vladimir pretende me mandar para longe de Brimstone? Por isso você tem tanta certeza de que vou escapar da forca, Rina?

Um sorriso de puro contentamento formou-se nos lábios de Katarin quando ela finalmente compreendeu o que estava acontecendo.

- Rina, eu acho que entendi tudo!

- O que você entendeu?- ela perguntou.

- Vladimir vai me mandar ir viver com o meu pai.

Florina franziu o cenho e disse:

- Katarin, sinceramente eu custo a acreditar nisso. Seu pai quase destruiu Brimstone e te usou pra isso. Por que Vladimir te mandaria para viver com ele agora?

- Para se livrar de um problema.- disse Katarin pondo a blusa e virando de costas para que Florina amarrasse os cordões.

- Não importa o que você fez, menina. Vladimir a ama como a uma filha. Ele quer protegê-la e eu não acho o seu pai a pessoa mais indicada para fazer isso. Lorde Ares de Elrich é um vampiro.

- Mas é meu pai!- Katarin insistiu.

- Oh, está bem!- disse Florina amarrando o último fio da blusa e se afastando para pegar um pente para arrumar os cabelos dela. – De qualquer forma, ele quer que você se apronte. Foi o recado que ele me deu. Depois ele virá falar com você e lhe explicará tudo.

Katarin sorriu mais uma vez. Finalmente viveria ao lado do pai outra vez, como sonhou durante tantos anos. Quando o visse, perguntaria a ele porque demorou tanto para vir resgatá-la. Lorde Elrich era um homem justo afinal. Provavelmente deveria ter sido obrigado a entregar a localização de Brimstone para os homens de Kagan. Mas ela descobriria toda a verdade assim que conseguisse falar com ele.

Florina penteou os cabelos dela pacientemente e arrumou as longas madeixas em uma trança comprida. Quando terminou disse à Katarin:

- Bem, você ficará aqui enquanto eu desço e descubro tudo o que você quiser sobre o tal homem que está atormentando seus pensamentos.

- Não tem homem nenhum atormentando meus pensamentos, Rina.- disse Katarin, irritada.

- Se você diz... – provocou Florina com um meio sorriso. – Coma enquanto ainda está quente! Você precisa de carne nesses ossinhos!- ela cutucou de brincadeira as costelas de Katarin e deixou os aposentos pedindo licença aos dois homens que vigiavam a porta do quarto dela do lado de fora.

xxxxxxxxxxxxxxx

Sebastian estava exausto. Os últimos dias desde que Brimstone havia sido invadida, mais a descoberta da traição de Katarin, a luta contra Kagan e sua morte o tinham exaurido. Somando-se a isso havia a fuga dele com Katarin, os beijos trocados nas montanhas e a desconfiança de Rayne. Principalmente a desconfiança de Rayne.

Fora ela quem o encontrara nas montanhas enquanto ele procurava por Katarin que tinha fugido dele após o rápido interlúdio romântico que os acometera, no qual Sebastian quase fez a maior besteira de sua vida. Quando Rayne o encontrou, ela olhou profundamente nos olhos dele e disse:

- Onde está ela, Sebastian?

- Eu não sei.- ele respondeu com sinceridade.

- Por que a ajudou a fugir?- ela indagou sem nenhuma dúvida de que ele havia feito isso. – Por que foi contra a sentença de Brimstone?

- Por que quer ver Katarin morta?- Sebastian retrucou.

- Eu nunca disse que a queria morta.- disse Rayne. – Apenas acredito que ela seja uma ameaça para Brimstone depois do que fez.

- Você não sabe de nada!- ele bradou. – Não a conhece como eu.

- Pode ser.- concordou Rayne. – Mas estou vendo que também não o conheço, Sebastian.

E dizendo isso, ela virou as costas a ele em seu cavalo. Poucos minutos depois Vladimir e sua comitiva também o encontraram. Ele não vira mais Rayne desde então. Ela provavelmente ainda deveria estar muito zangada com ele.

Desde que retornara à Brimstone, os demais guerreiros da sociedade secreta começaram a fazer galhofa dele, chamando-o de frangote e covarde. Tudo porque Katarin afirmara tê-lo ameaçado para que ele a ajudasse a fugir. Mesmo diante do perigo ela ainda o protegera. Sebastian não conseguia pensar sobre Katarin como uma pessoa de coração mau. Para ele, ao trair Brimstone ela realmente acreditava que estaria fazendo o melhor pelos romenos, mantendo-os afastados da era de trevas que o reinado do vampiro Kagan teria sido se Rayne não o tivesse matado.

Agora ele se perguntava o que Vladimir pretendia fazer com ela. Naquele momento ele sabia que seu líder estava em reuniào apenas com os membros do conselho de Brimstone para decidir o destino de Katarin. Não importava qual fosse a decisão desta vez, ele não permitiria que sua melhor amiga fosse enforcada ou ferida de qualquer forma.

Todos estavam curiosos para saber qual seria o destino de Katarin de Elrich e não paravam de fazer apostas e falar a respeito disso no salão de refeições. Naquela noite, a mesa estava farta porque Rayne doara à Brimstone uma grande quantidade em moedas de ouro que pertencera ao seu malévolo pai para comprar mantimentos. Por causa disso, ela estava sendo idolatrada pelas pessoas. Sebastian compreendia toda aquela gratidão, mas ao mesmo tempo se ressentia porque as pessoas pareciam ter esquecido tudo o que Katarin fizera por Brimstone desde que se tornara uma guerreira.

O homem que a capturara e mais um homem que o acompanhava estava presente a uma das mesas, jantando. Sebastian não sabia quem ele era. Tinha gestos educados demais para ser um mercenário. Mas o que mais ele poderia ser? E por que Vladimir mandara chamá-lo? Nada fazia sentido porque fora o próprio Vladimir quem o incentivara a ajudar Katarin a fugir.

Sebastian o observou discretamente. Ele era muito alto e muito forte. Maior do que qualquer um dos guerreiros de Brimstone. Seu rosto tinha feições duras, embora os olhos fossem de um delicado tom de verde. Deveria ter trinta e poucos anos, mas parecia possuir a sabedoria de um homem mais velho como Vladimir.

Ele deveria ter ameaçado Katarin com uma arma porque mesmo sendo forte como era, Sebastian sabia que era muito difícil vencer sua amiga num combate. Ela era a mulher mais forte que já conhecera. Rayne era muito forte também, mas tinha que se levar em consideração seus poderes de dhampir. Katarin, pelo contrário, não era uma vampira, mas podia ser considerada tão forte quanto Rayne. Ela era determinada, disciplinada e Sebastian admirava isso nela.

Cansado de esperar que a reunião do conselho acabasse e que Vladimir trouxesse notícias sobre o futuro de Katarin, Sebastian terminou de comer e caminhou em direção à saída do salão de refeições, porém foi barrado no caminho por dois guerreiros de Brimstone, Phineas e Laurent. Eles eram mais velhos que Sebastian e mais fortes também. No entanto o invejavam pela posição privilegiada que ele possuía sendo o protegido de Vladimir.

- Hey, Sebastian!- disse Phineas. – Eu soube que você apanhou de uma garota hoje.

Ele pronunciou aquelas palavras tão alto que fez as outras pessoas no salão rirem. Mas Sebastian não se incomodou com aquilo, na verdade já esperava por isso.

- Mas Phineas, dê um desconto para o pobre Sebastian. Katarin não é qualquer garota. Às vezes tenho dúvidas se ela é realmente uma garota!

Novas risadas. Andrei prestava atenção ao que acontecia discretamente, terminando de comer sua sopa. Tudo o que dissesse respeito à sua protegida lhe interessava. E se ela tinha fugido de Brimstone com aquele garoto significava que eles tinham alguma espécie de ligação e ele gostaria de saber de que tipo era.

- Calem a boca!- Sebastian disse aos dois. – Vocês não sabem de nada!

Ele tentou passar novamente pelos dois brutamontes, mas Laurent empurrou Sebastian para trás e disse:

- Ah, qual é Sebastian? Apanhando da pequena Kat? Quem diria, hein? Nós achávamos que Vladimir o quisesse sempre ao seu lado pela sua força e coragem, agora estamos vendo que existem outras razões por trás disso!- Laurent acrescentou em tom malicioso e fez um gesto obsceno que os braços. As pessoas no salão não paravam de rir.

Sebastian desembainhou sua espada e disse a Laurent:

- Se você for homem o bastante, repita o que acabou de me dizer!

- Oh, agora o pequeno Sebastian quer demonstrar sua valentia?- falou Phineas.

Laurent desembainhou sua espada também e apontou para Sebastian. As atenções de todos estavam voltadas para aquela cena.

- Se Katarin não conseguiu cortar sua garganta, creio que posso finalizar o serviço dela.

Ele investiu contra Sebastian, mas a espada nem chegou perto do rosto do rapaz porque Andrei em uma fração de segundos o agarrou pela casaca de couro e o atirou longe contra uma das mesas, a espada dele escapou de suas mãos e foi parar no chão de pedra com um barulho estridente.

As pessoas presentes no salão de refeições olharam chocadas para Andrei. Phineas deu um passo à frente e o encarou, perguntando:

- Quem é você?

Seguido à pergunta de Phineas vozes de exclamação foram ouvidas acompanhada de uma salva de palmas e gritos de aprovação. A população de Brimstone parecia realmente impressionada com a habilidade e força de Andrei.

Phineas foi ajudar o amigo Laurent a se levantar e logo todos tinham se esquecido o motivo que iniciara aquela briga. Apenas comentavam sobre como o cavaleiro misterioso recém-chegado à Brimstone conseguira atirar Laurent para longe de Sebastian com apenas uma das mãos à metros de distância. Algumas jovens suspiraram diante da força de Andrei e guerreiros queriam uma nova demonstração de toda aquela força para que pudessem aprender como fazer aquilo.

Mas Andrei dispensou toda aquela atenção e seguiu Sebastian para fora do salão de refeições. O rapaz olhou zangado para ele quando percebeu que estava sendo seguido.

- Se quer uma palavra de gratidão da minha parte está perdendo seu tempo.- disse Sebastian com arrogância. – Eu poderia ter cuidado de Laurent sozinho.

- Sim, poderia.- concordou Andrei com sarcasmo. – Assim como cuidou de Katarin?

Os olhos claros de Sebastian se estreitaram com fúria.

- Olha aqui, eu nem sei quem é você. Se sua missão em Brimstone era encontrar Katarin e trazê-la de volta e se já recebeu seu pagamento por isso, então pode ir embora agora mesmo!

- Partirei amanhã bem cedo.- disse Andrei muito calmo. – Katarin irá comigo!

- Como é que é?- Sebastian não podia acreditar no que estava ouvindo.

- Foi isso o que você ouviu, garoto.- falou Andrei com desprezo inegável. – O pai de Katarin era um visconde, creio que você deve saber disso. Ele faleceu há alguns dias, mas antes de morrer me nomeou o novo tutor de Katarin.

- Ares de Elrich está morto?- questionou Sebastian ficando cada vez mais surpreso. – Mas Katarin não precisa de um tutor. Ela vive em Brimstone há muito tempo, o pai dela a deixou sob os cuidados de Vladimir desde que...

- Desde que ele virou vampiro.- completou Andrei. – Eu sei de toda a história e estou aqui para cumprir o meu papel. Katarin pertence à nobreza, é menor de idade e o pai dela está morto. Seja lá que tipo de acordo verbal ele tenha feito com Vladimir para manter Katarin aqui, esse acordo acabou quando Ares morreu.

- Mas os vampiros não deveriam ser imortais? Como ele morreu?

- Desconheço os detalhes.- respondeu Andrei. – E como caçador de vampiros você deve saber que vampiros podem ser mortos.

- Você está mentindo!- disse Sebastian. – Não pode ser o tutor de Katarin!

- E por que não?- retrucou Andrei. – Tenho documentos que me dão plenos poderes sobre ela até que se case ou complete 21 anos de idade.

- Muito cômodo pra você, mercenário!- continuou Sebastian. – Não sei que tipo de relação você tinha com Elrich, mas deve saber que o pai dela era muito rico. Você está se aproveitando da situação. Quer levá-la com você para ficar com o dinheiro dela e desfrutar da beleza de Katarin.

- Por que isso o incomoda tanto?- provocou Andrei. – Que a família dela tem uma imensa fortuna, é óbvio demais, mas em relação a desfrutar da beleza dela? Qual seria o problema? Você próprio já não o fez?

Sebastian fez menção de socá-lo direto no rosto, mas Andrei segurou o punho dele com tanta força que o rapaz sentiu seus ossos da mão estalarem.

- Me diga agora mesmo!- exigiu Andrei, afastando-o de si. – Você e Katarin são amantes?

- Mas de que diabos está falando?- bradou Sebastian massageando o punho machucado pela mão de Andrei. – Como se atreve a atentar contra a reputação de Katarin?

Andrei balançou a cabeça negativamente, recordando-se de que a blusa de Katarin estava aberta quando ele a encontrou nas montanhas fugindo do vampiro. Poderia ter sido aberta pelo ser maligno que a perseguia quando ele tentou mordê-la, mas também poderia ter sido feito por Sebastian. Se estavam juntos naquela fuga, o que Andrei considerava mais provável do que aquela história de que ela o ameaçara para fugir, era muito estranho que Katarin estivesse sozinha. Estaria ela fugindo dele? Teria ele tentando violentá-la? Numa coisa Sebastian tinha mais do que razão, a beleza de Katarin de Elrich era inegável. Então havia a possibilidade de Sebastian ter tentado se aproveitar dela nas montanhas. Isso deixava Andrei extremamente furioso. Mas se isso havia acontecido, por que Katarin o defendera afinal? Que espécie de lealdade era aquela que os unia?

- Não sei que tipo de relacionamento existe entre vocês dois.- afirmou Andrei. – Mas a partir de agora, acabou! Katarin irá embora de Brimstone para sempre e se casará com um nobre que esteja à altura dela.

- Vladimir jamais concordará que a leve!- disse Sebastian.

- Ele já concordou!- falou Andrei, triunfante.

Florina observava os dois homens conversando a uma certa distância. Pelas expressões nos rostos deles a conversa estava sendo hostil. Então aquele era o mercenário que havia trazido Katarin de volta para Brimstone. A velha senhora sorriu. Agora compreendia porque sua menina parecia tão perturbada por ele. O homem se assemelhava a um guerreiro mitológico de tão forte e belo que era. Deveria ser mais de dez anos mais velho do que Katarin, ela imaginou.

As cartas estavam certas. Florina tinha visto muita paixão nelas para Katarin. Talvez essa paixão tivesse vindo personificada na figura daquele imponente guerreiro. Sebastian também era alto e forte, mas na frente daquele homem ele parecia uma coisinha insignificante, pensou ela antes de correr de volta para os aposentos de Katarin para contar tudo o que tinha presenciado no salão de refeições.

Quando entrou no quarto, encontrou Katarin deitada na cama, de olhos fechados. O prato de comida que trouxera estava vazio. Ela caminhou devagar para não fazer barulho, mas Katarin abriu os olhos de repente e disse:

- Eu estou acordada, Rina. Além disso, eu teria despertado mesmo se estivesse dormindo. Você nunca foi muito silenciosa.

Florina sorriu e sentou-se na cama ao lado de Katarin. Ela ergueu a cabeça e deitou-se sobre as pernas de sua amiga enquanto Rina afagava-lhe os cabelos.

- Diga-me querida Rina, o que descobriu para mim.

- Ah menina, eu o vi, no salão de refeições e depois no pátio com Sebastian.

- Com Sebastian?- Katarin indagou, surpresa.

- Não sei sobre o que eles estavam conversando, mas a conversa não me pareceu nada amigável. Mesmo assim acho que Sebastian deveria ser grato a ele por ter impedido Laurent de cortar-lhe o pescoço.

- Laurent atacou Sebastian?

- Você sabe como ele é!

- Ele é um idiota! Eu o mataria se tocasse num fio de cabelo do Sebastian.

- Não vamos perder tempo falando de Laurent.

- Você está certa.- concordou Katarin. – Fale-me sobre o mercenário. Como é o nome dele?

- Eu não faço a menor ideia!- disse Florina. – Mas ele é tão bonito, viril e tem uns olhos...

- Disso eu já sei!- afirmou Katarin. – Eu gostaria mesmo de saber o que ele ainda está fazendo em Brimstone se a missão dele era só me trazer de volta pra cá.

- Talvez esteja interessado em você, meu anjo.

- O que quer dizer, Rina?

- Menina, você é tão inocente! Eu arrisco um palpite baseado no que eu li nas cartas.

- E o que seria?

- Ele ainda está aqui porque deseja se casar com você.

Katarin revirou os olhos.

- Que coisa mais boba está dizendo, Rina. É bobo demais até pra você. Por que esse homem iria querer se casar comigo? Nós só nos vimos uma vez!- Katarin achou melhor ocultar de Florina que ele tinha visto mais do que os belos olhos azuis dela naquela mesma noite. Ela tinha sido tão descuidada em não amarrar os cordões da blusa quando fugiu de Sebastian.

- Ele pode ter se encantado por você, assim como você se interessou por ele.

- Não estou interessada nele.- disse Katarin.

- Mas você disse que estava...

- Eu disse que talvez estivesse. Mas tudo isso é uma estupidez. Esse homem não se importa comigo. Ele receberá seu pagamento por ter trazido meu pescoço de volta para a forca.

- Mas eu vi paixão nas cartas, tenho certeza!

- Suas cartas estavam erradas dessa vez... – garantiu Katarin.

Vladimir bateu à porta do quarto nesse exato momento. Katarin sentiu um ligeiro embrulho no estômago. A reunião do conselho deveria ter acabado e agora ele estava vindo lhe contar a respeito de sua nova sentença. Será que ele a enviaria mesmo para viver com o pai e a livraria da forca?

Katarin autorizou que ele entrasse. Uma vez dentro do quarto, ele pediu à Rina que os deixasse a sós. Ela obedeceu, mas estava com o coração na mão tanto quanto Katarin.

- O conselho chegou a uma nova decisão, Katarin.- Vladimir anunciou.

Ela sentou-se na cama e fitou o rosto dele com o olhar resignado. Se ele dissesse que ela seria enforcada naquele exato momento continuaria mantendo seu queixo erguido.

- E qual foi a decisão?- ela se pronunciou.

- Você não irá à forca, sua vida será poupada, mas ainda assim será punida!

Katarin sentiu o corpo inteiro estremecer quando pensou em qual poderia ser sua punição.

- Oh, não Vladimir, por favor. Poupe-me disso!- ela implorou. Conhecia muito bem as antigas leis de Brimstone. Olho por olho, dente por dente. Se ela não seria enforcada, sua punição seria ser violentada por quantos homens o líder escolhesse até que ela implorasse pela própria morte diante de tanta humilhação. Seria muito pior do que a forca. – Você não pode fazer isso comigo, não pode deixar que me violentem...

- Ninguém vai te violar, Katarin. Por Deus, do que está falando?

- Das antigas leis.

- Você sabe que não sigo essas leis. Durante o tempo em que estou liderando Brimstone nenhuma mulher foi violada. Isso é desumano demais. É pior do que a forca!

Katarin deixou sair um suspiro de alívio e perguntou:

- Então qual será minha punição?

- Você será banida de Brimstone.- disse Vladimir.

- Aceito e compreendo a decisão.- falou Katarin. – Quando terei permissão para partir ao encontro do meu pai em Gherla?

- Você não irá à Gherla!- disse Vladimir. – Irá para Bucareste com Lorde Andrei de Tulcea. O homem que seu pai nomeou para ser seu tutor após a morte dele.

- O quê?- questionou Katarin, chocada. – Meu pai está morto?

- Eu sinto muito, querida. Mas seu pai faleceu e Lorde Andrei veio buscá-la. Ele é o homem que a encontrou nas montanhas.

- Não! Não!- gritou Katarin. – O que aconteceu com o meu pai?

- Creio que Lorde Andrei poderá responder essa pergunta e a outras perguntas que você tiver. Foi por isso que pedi à Florina que a ajudasse a arrumar suas coisas. Partirão ao raiar do dia. Dói meu coração vê-la deixar Brimstone, Katarin...

- Hipócrita!- Katarin gritou. – Eu quero ir à Gherla ver meu pai. Não acredito em você, meu pai ainda está vivo, ele é um vampiro. Imortal!

- Mas vampiros podem morrer, você sabe disso!- Vladimir a lembrou, mas sentia pesar por ela, lágrimas deslizavam pelo rosto de Katarin em abundância. – Portanto você partirá amanhã com ele e sua comitiva para a capital. Seu pai o nomeou seu tutor até que complete a maioridade ou se case com alguém de sua classe social.

Agora o corpo de Katarin tremia e ela soluçava de tristeza pela morte do pai. Vladimir mandou chamar Florina de volta para acalmá-la. Ela entrou depressa e acolheu Katarin em seus braços.

- Eu sinto muito pela morte de seu pai, Katarin. Mas você ainda precisa partir amanhã com Lorde Andrei. Não pode ficar aqui, já não pertence mais à Brimstone.

- Eu não vou a lugar algum com esse homem! Eu prefiro morrer!- gritou Katarin.

- Fique calma, querida...- pediu Florina, dando tapinhas em suas costas.

- Prefiro morrer, Rina, prefiro morrer... – Katarin repetiu antes de se entregar ao pranto doído que ela vinha prendendo desde que fora enviada para a prisão.

- Vai ficar tudo bem...vai ficar tudo bem...- dizia Florina para ela.

Vladimir deixou o quarto depressa porque seus próprios olhos estavam cheios de lágrimas. Ele se ressentia de expulsar Katarin do lugar onde um dia fora seu lar, mas não havia mais nada que ele pudesse fazer por ela. O único jeito de mantê-la viva e em segurança era mandá-la embora de Brimstone.

- Oh, Deus, que eu esteja fazendo a coisa certa pela minha menina... – Vladimir balbuciou, já em seus aposentos servindo-se de uma dose dupla de conhaque.

Continua...
Ir para o topo Ir para baixo
Renata Holloway
Fãs
Fãs
Renata Holloway


Mensagens : 96
Data de inscrição : 12/01/2010
Idade : 41
Localização : Pandora

O Diário da Lady (NC-17)- Fanfiction inspirada em Bloodrayne. SPOILERS! Empty
MensagemAssunto: Re: O Diário da Lady (NC-17)- Fanfiction inspirada em Bloodrayne. SPOILERS!   O Diário da Lady (NC-17)- Fanfiction inspirada em Bloodrayne. SPOILERS! Icon_minitimeSáb Fev 27, 2010 6:22 pm

Capítulo 3- Medo

Atravessando a baía, 18 de agosto de 1708.

Eu não pensei que fosse voltar a escrever em meu diário. Não imaginava que veria a luz do sol novamente. A essa hora meu corpo deveria estar pendendo do tablado de madeira construído para a minha execução. Os abutres deveriam estar em festa, ansiando para que minha carne fosse liberada para alimentá-los. Mas aqui estou eu, livre da morte, sentindo os respingos da água salgada do mar molhando meu rosto enquanto atravessamos a baía em direção à Gherla. Sebastian e eu. É irônico, mas acho que nunca estive tão feliz.

Sebastian me salvou da morte e eu serei eternamente grata a ele. Beijei-o em gratidão. Mas não foi só gratidão. Eu quis beijá-lo porque o amo há tanto tempo em segredo. Foi meu primeiro beijo. Embora tenha sido eu quem tomou a iniciativa, foi muito bom. Quero beijá-lo de novo.

Não sei o que faremos quando chegarmos à Gherla. Sebastian falou sobre eu me esconder nas montanhas. Mas duvido que ele queira me deixar sozinha. Eu o convencerei a vir comigo. Iremos para outra cidade, recomeçaremos nossas vidas.



- O que tanto você escreve aí?- quis saber Sebastian enquanto segurava o leme que conduzia o barco, observando Katarin riscar as folhas do diário com o resto do nanquim que havia no bico da pena. – Como consegue escrever com o barco sacolejando desse jeito?- ele acrescentou, conduzindo o barco em direção ao porto de Gherla.

- Preciso registrar o fato de que estou viva, Sebastian!- disse ela, guardando a pena agora limpa no bolso da calça de couro preta que ela vestia.

- Devia deixar para fazer isso quando estivermos em segurança.- disse ele. – Assim que as pessoas em Brimstone descobrirem que você fugiu mandarão os homens para vir procurá-la.

- Mas aí nós estaremos bem longe.- falou ela com um sorriso de puro contentamento.

Sebastian a ouviu dizer a palavra "nós", mas não disse nada. Ele não pretendia fugir com Katarin, queria apenas assegurar que ela pudesse ir embora em segurança, mas aparentemente não era o que ela estava pensando.

Gherla não era muito longe de Brimstone e logo o barco deles atracou no porto. Katarin ergueu-se e correu a tirar Jocasta de dentro da cabine de madeira que ela dividia com Apollo, o cavalo de Sebastian. Ela levou ambos os cavalos para o píer enquanto Sebastian amarrava o barco nas docas. Ele esperava que ninguém de Brimstone estivesse seguindo-os ainda. As montanhas não eram muito longe, mas eles precisavam de algum tempo para chegar até lá. Esperava que estivessem todos muito ocupados para perceber que ele pegara um dos barcos emprestados.

- Em que direção nós iremos?- indagou Katarin, já montada em seu cavalo.

- Para o norte, para longe de Gherla. Asssim não nos encontrarão!- Sebastian instigou seu cavalo a correr e Katarin fez o mesmo. Ao sentir o vento em seus cabelos, Katarin pensou que não havia nada melhor na vida do que a liberdade.

xxxxxxxxxxxxx

Vladimir observou o homem estranho que acabara de chegar à Brimstone dizendo que tinha sido enviado por Elrich para levar Katarin com ele. Aquilo parecia tão surreal e ao mesmo tempo tão providencial. Ele vinha pensando numa maneira de salvar Katarin e aquele homem parecia ter sido enviado por uma força divina para livrar sua antiga protegida da morte.

- Aqui estão os documentos que me foram entregues por Zane, o secretário de Elrich.

Vlad analisou os documentos, um a um, todos estavam devidamente assinados e carimbados, portanto, eram verdadeiros.

- Qual era sua relação com o pai de Katarin?- ele quis saber.

- Nós éramos velhos conhecidos, apenas isso.

- Por que Ares nomearia um velho conhecido para ser o tutor de Katarin? Se são velhos conhecidos você deve saber que Elrich era um vampiro, por isso ele deixou Katarin conosco todos esses anos.

- Eu não me importo se ele era um vampiro.- disse Andrei. – Eu tinha uma dívida com ele e Elrich quer que eu a pague protegendo a filha única dele. Pretendo levar Katarin para viver em meu castelo e arranjar um marido para ela. -Dentro de sua condição social é claro. – ele acrescentou.

- Compreendo, mas talvez eu não possa deixá-lo levá-la.

- E por que não?- retrucou Andrei.

- Porque Katarin está em uma situação muito delicada em Brimstone.- Vladimir respondeu com sinceridade. Não que ele quisesse manter Katarin em Brimstone para ser morta, mas ele precisava se certificar de que ela estaria em boas mãos se partisse. Ele não desejava nenhum mal para aquela a quem considerava como uma filha. Se o destino estava encontrando um jeito de mantê-la viva, então Vladimir queria que ela fosse feliz.

- Que tipo de situação delicada?- indagou Andrei. Ainda que soubesse que a situação de sua nova protegida não deveria ser das melhores pelo que o pai dela dissera na carta. Andrei gostaria de saber em que tipo de problemas a garota se metera.

- Ela quebrou a lei máxima do código moral de Brimstone. Ela nos traiu para ajudar o próprio pai em uma chacina contra Brimstone, visando a morte do vampiro Kagan. Não sei se está familiarizado com vampiros ou com a missão de Brimstone mas...

- Conheço vampiros o suficiente, Sr. Vladimir.- garantiu Andrei. – E também sei qual é a missão de Brimstone, mas se quer mesmo saber vampiros não me interessam. Em Bucareste, a Corte do Príncipe Regente não está interessada nas criaturas do submundo.

- Disso eu sei muito bem.- disse Vladimir com amargor. – O Príncipe Regente não quer sujar as mãos dele de sangue matando vampiros ou alimentar aqueles que o fazem. Se Brimstone deixasse de existir, a Romênia como a conhecemos também desapareceria, incluindo a preciosa Corte do Príncipe Regente.

- Eu não vim aqui para tratar de política, Sr. Vladimir. Portanto, me diga logo onde está Katarin!- Andrei exigiu entre os dentes.

- Eu diria se a situação não fosse tão delicada quanto eu coloquei. Como eu disse, Katarin quebrou a lei mais importante de Brimstone, e nossa sociedade a julgou. Ela foi condenada à forca.

Andrei ergueu uma sobrancelha e argumentou:

- Bem, se o problema é bani-la da sociedade de Brimstone para que repare seu erro, que assim seja. Eu a levarei daqui agora mesmo! Mas lhe digo uma coisa, Vladimir de Brimstone, Katarin Elena de Elrich tem sangue nobre, é filha de um visconde, jamais poderia ter um julgamento como o de vocês.

- Eu cuidei de Katarin desde os nove anos, ela sempre conviveu conosco, desde bebê, muito antes do pai dela se tornar um vampiro. E se ele está morto agora, só pode significar que algum dos inimigos dele o fez.

- Isso pouco me importa!- insistiu Andrei. – Estou de posse dos documentos e vou levar a moça. Se tentar me impedir, voltarei com um magistrado que me assegurará que a leve daqui na próxima vez. Se você permitir que ela seja enforcada, terá que lidar com a fúria do Príncipe Regente porque eu o acusarei de assassinato!

Vladimir baixou a cabeça novamente para os papéis que o lorde tinha lhe mostrado. Tudo estava mesmo em ordem. O lorde estava de posse dos documentos que garantiam a ele a tutela de Katarin, de seus bens e fortuna até a maioridade ou até que se casasse. E ele sabia que a chegada de Andrei à Brimstone era o que precisava para salvar Katarin da morte.

Mas ainda queria fazer uma última pergunta a ele antes de dar sua autorização final para que Andrei de Tulcea levasse Katarin para seu castelo.

- Que tipo de homem é você?- perguntou Vladimir de repente, sem preâmbulos. A pergunta surpreendeu Andrei.

- O que quer dizer?

- Você chega aqui com esses documentos, dizendo que vai levar Katarin, então eu preciso saber que tipo de homem é você. Katarin é uma guerreira bem treinada, sabe se defender muito bem, mas você é um homem poderoso, e ela uma linda jovem de 17 anos. ..

Para o espanto de Vladimir, a face sisusa de Andrei se desfez e ele começou a rir antes de dizer:

- Não entendo por que está se preocupando tanto com o bem estar de Katarin se agora a pouco me contou que ela seria enforcada.

- Como eu disse Katarin é um membro de Brimstone. Ela cometeu um erro grave e foi julgada. O enforcamento foi a punição decidida pelo júri, mas isso não significa que eu concorde com tal punição. Eu me preocupo com ela e confesso que estou considerando sua chegada providencial para livrar minha menina da morte, mas ainda assim preciso saber para onde estarei enviando-a, se ir viver com você não será uma punição pior do que o enforcamento para ela.

- Aprecio sua preocupação paternalista.- disse Andrei. – Mas não se preocupe. Como pode ver, sou velho demais para ter interesse em mocinhas. Tudo o que eu quero é encontrar um marido adequado para ela conforme o desejo de seu falecido pai.

Vladimir estendeu a mão para ele e Andrei a apertou com firmeza e confiança.

- Você pode levá-la. Tem minha permissão.- assegurou o líder de Brimstone.

-. Ela estará segura em meu castelo.- Andrei garantiu. - Sua reputação também. Eu trouxe uma dama de companhia comigo para que ela acompanhe Katarin e cuide dela durante a viagem. Ela não viajará apenas com homens.

- Muita bondade sua, mas Katarin não precisa de damas de companhia ou de cuidados. Verá por si mesmo.

Vladimir sentia-se muito aliviado agora que Katarin iria embora sem sofrer a punição decidida por Brimstone. Ele estava a ponto de informar mais coisas a respeito dela para seu novo guardião quando um de seus homens entrou no salão onde ele conversava com Lorde Andrei.

- Vladimir!- disse o rapaz, pálido.

- O que houve?- ele indagou.

- Katarin se foi! A égua dela não está mais no estábulo!

- Como é que é?- Vladimir retrucou, muito surpreso.

- Fomos buscá-la para a execução e ela não estava mais na cela. Procuramos por toda Brimstone e nem sinal de Katarin. Então Marcus verificou nos estábulos e Jocasta, a égua dela, não está lá!

- Estou vendo que a segurança de Brimstone anda tendo problemas, Sr. Vladimir.- disse Andrei.

- E tem mais uma coisa.- acrescentou o soldado, ignorando as palavras de Andrei. – O cavalo de Sebastian também não está na baia.

Então Sebastian tinha tido mesmo coragem de ajudar Katarin a fugir? Pensou Vladimir. Bem, talvez antes de Andrei chegar ele tivesse aplaudido de pé a coragem de seu pupilo, mas agora que a situação era outra, ele lamentava ter instigado Sebastian a fazer tal coisa.

- Precisamos encontrá-la!- ele bradou de repente. – Organize um grupo de buscas agora mesmo.

- Mas Vladimir, o que diremos às pessoas que esperam pela execução de Katarin?

- Não diremos nada por enquanto.- disse ele. – Encontrá-la é mais importante.

- Eu irei com vocês.- anunciou Andrei.

- Não se preocupe, nós a encontraremos e a traremos de volta!- assegurou Vladimir.

- Eu irei com vocês!- repetiu Andrei, com se não tivesse ouvido da primeira vez.

- Vladimir!- Rayne chamou entrando na sala particular dele. – Eu acabei de saber. E Sebastian foi com ela!- ela acrescentou as últimas palavras com certo amargor.

- Quem é Sebastian?- perguntou Andrei. – Ele é o amante de Katarin ou algo assim? Por que não me falou sobre ele?

- Quem é você?- Rayne perguntou, medindo-o dos pés à cabeça. Andrei fez o mesmo. De imediato ela sentiu algo estranho sobre ele, mas não soube precisar o que era.

- Sou Andrei de Tulcea.- disse ele. – O novo tutor de Katarin e vim buscá-la!

- Se vai nos acompanhar é melhor que leve armas com você.- advertiu Vladimir. – Vai precisar se quisermos trazê-la de volta. Katarin pode ser perigosa!

- Eu vou com vocês também!- falou Rayne. – Quero trazer o Sebastian de volta.

Em seguida ela olhou para Andrei e disse:

- Bem-vindo à Brimstone. Creio que um tutor para Katarin seria mesmo muito útil porque ela tem muita coisa que precisa aprender sobre boas maneiras.

Andrei achou as palavras de Rayne muito arrogantes e se perguntou o que estaria uma vampira fazendo nos domínios da Sociedade Secreta de Brimstone. Porém, mais tarde Andrei se lembraria das palavras de Rayne a respeito de Katarin quase como uma profecia.

xxxxxxxxxxxxxx

Já estava escuro quando Sebastian e Katarin chegaram às montanhas. A temperatura esfriou depressa e ele fez uma fogueira enquanto ela se embrulhava no único cobertor que trouxeram e se sentava junto ao fogo observando as chamas que estalavam e subiam refletindo nas paredes de pedra da rocha onde eles se abrigaram.

- Para onde iremos?- ela indagou oferecendo parte do cobertor a ele quando Sebastian sentou-se ao lado dela, atiçando o fogo com um galho seco.

- Não é seguro aqui. Você deve ir para a capital. Lá estará a salvo de Brimstone e dos vampiros. O Príncipe Regente não tolera os guerreiros de Brimstone e nem as criaturas noturnas por lá. Ouvi dizer que a vida em Bucareste é muito diferente daqui. Mais tranqüila, divertida...

- Sebastian, eu não tenho nenhum dinheiro.- Katarin disse, esperando que Sebastian dissesse que iria com ela.

Mas ele retirou um saco vermelho do bolso com algumas moedas de ouro e entregou a ela:

- Isso deve ser suficiente para que sobreviva até arranjar um trabalho na capital.

- Não posso aceitar!- disse ela, empurrando o saco de moedas de volta para ele. – É tudo o que você tem.

- Mas eu quero dar a você para que fique bem, Katarin.

Ela sorriu e aceitou o dinheiro, guardando junto com a trouxa que Sebastian tinha trazido para ela. Eles partilharam a pequena refeição que tinham trazido e depois Sebastian estendeu o cobertor no chão para que eles se deitassem junto ao fogo e se aquecessem.

Ficaram em silêncio por longos minutos até que Katarin começou a falar, observando o céu sem nuvens, pontilhado de pequenas estrelas.

- Você se lembra daquela noite em que fugimos de Brimstone e viemos para Gherla sozinhos porque queríamos ver o circo dos horrores?

Sebastian sorriu.

- Eu me lembro sim. Vladimir ficou muito zangado conosco.

- Tínhamos só treze anos.- ela recordou-se, saudosa. – E você tirou seu casaco de couro para me aquecer porque eu sentia muito frio e nós estendemos os cobertores na grama como estamos fazendo agora.- ela ficou calada por alguns segundos antes de acrescentar. – Foi quando eu me apaixonei por você...

Ele olhou para ela, parecendo bastante surpreso.

- Se apaixonou por mim?

- Sim.- Katarin admitiu mais uma vez. – E não deixei de amá-lo desde então...

- Katarin... – Sebastian disse, se voltando para ela, mas foi surpreendido mais uma vez com um beijo, um pouco impetuoso, diferente do beijo casto que tinham trocado ainda em Brimstone.

Os lábios de Katarin eram doces e macios, ainda que inexperientes e desajeitados sobre os dele. Ela não sabia muito que fazer e Sebastian mantendo os lábios dele parados junto aos dela não ajudava muito.

Ela se afastou de repente e o fitou com seus intensos olhos azuis e Sebastian sentiu uma onda inesperada de desejo por ela. Katarin era linda e embora não a amasse da maneira como ela dizia amá-lo, ele percebeu que ainda era um homem e que mesmo gostando tanto de Rayne, não podia negar os beijos de uma mulher bonita que ansiava por ele.

Por isso Sebastian a beijou de volta, enfiando seus dedos entre os sedosos cabelos negros dela e a puxando pela nuca contra o rosto dele, unindo seus lábios aos dela. Katarin suspirou e tentou acompanhar o beijo dele, mas sentia-se atrapalhada demais e quando Sebastian ofereceu sua língua para ela, Katarin odiou-se por não saber o que fazer.

- Desculpe...acho que não sei...beijar...

- Está indo bem!- disse Sebastian querendo beijá-la de novo.

Katarin voltou a se aproximar dele e Sebastian beijou-a novamente. Ela deixou que ele inserisse sua língua entre os lábios dela e então dentro de sua boca. A sensação era boa, porém um tanto desconcertante para Katarin porque ela se sentia perdida sobre o que fazer.

Dos lábios, ele começou a beijar o pescoço dela e então seu colo, pressionando seu corpo contra o dela em cima do cobertor. Katarin ficou lá, passiva, esperando pelo próximo movimento dele e deixou que Sebastian começasse a desamarrar os cordões que prendiam sua blusa. Parte da pele morena dela desnudou-se para ele, mas antes que pudesse descobrir-lhe os castos seios, que arfavam embaixo da blusa de couro cru preta, Sebastian parou a si mesmo.

- O que foi?- Kat indagou.

- Eu não posso fazer isso!- disse ele, sentindo-se culpado.

- Sebastian, não precisa ficar preocupado. Eu quero ter relações carnais com você. É óbvio que sei como isso funciona, Florina me ensinou tudo sobre o que acontece entre um homem e uma mulher.

- Não Katarin, você é uma donzela. Precisa se guardar para o seu marido.

- Não quero me guardar para ninguém!- disse ela. – Eu amo você e quero ser sua...sei também que você me quer...

- Maldito seja eu por querê-la, Katarin! Você é como uma irmã para mim, eu estou cometendo um pecado do qual me arrependerei para sempre!

- Não diga isso!- Katarin pediu.

- Katarin, eu amo a Rayne. Perdoe-me!- Sebastian disse com amargor.

Ela começou a balançar a cabeça negativamente, sentindo o coração pesar de tanta tristeza ao ouvir as palavras de Sebastian.

- Eu só a quero Katarin porque sou um homem e você é uma linda virgem...nada mais do que isso! Nunca pensei em possuí-la até agora.

As palavras finais dele a irritaram e Katarin ergueu-se furiosa, jogando o saco de moedas sobre ele.

- Aonde você vai, Katarin?

- Deixe-me!- ela gritou. – Se você só me quer porque pensa que minha virtude é um troféu para você, esqueça-me, Sebastian! Eu devia ter me entregado a um vampiro ou é só você que pode fornicar com uma criatura da noite?

- Não diga tolices, Katarin! Eu estou apaixonado pela Rayne. E ela não é uma vampira, é uma damphir. Ela é diferente dos outros vampiros.

Katarin caminhou para longe dele em direção à Jocasta, pronta para se afastar dali, mas Sebastian a segurou pelo braço.

- Katarin, me escute!

Ela desferiu um soco contra o rosto dele, deixando-o zonzo. O nariz de Sebastian começou a sangrar. Ainda assim ele tentou pegá-la. Mas Katarin já tinha montado em sua égua e desaparecia na escuridão das montanhas para longe dele.

- Katarin! Katarin!- ele gritou e sua voz ecoou pelo vale escuro.

xxxxxxxxxxxxxxxxx

Katarin galopou sem rumo, segurando as lágrimas. Ela se sentia humilhada por Sebastian tê-la rejeitado. Quando ele disse que ia ajudá-la a fugir e que estava fazendo isso porque a amava, ela pensou que ele a queria como mulher e que estava deixando Rayne e Brimstone para trás para ficar com ela. Como tinha sido tola!

Quanto mais ela se afastava do acampamento improvisado montado por ela e Sebastian, mais escuro e sombrio o caminho de pedras ficava, assim como o vento que silvava em seus ouvidos e arrepiava sua pele. Estava com frio, na pressa de fugir de Sebastian, se esquecera de levar o cobertor consigo.

A voz de Sebastian estava longe chamando por ela quando de repente a égua de Katarin empinou e relinchou assustada. Katarin segurou com força nas rédeas e falou com ela, tentando acalmá-la:

- Jocasta! Calma, garota! O que houve? Está tudo bem...

Jocasta relinchou mais uma vez e Katarin ouviu um barulho. Parecia o som de algo se esgueirando lentamente. Ela esperou que não fosse um tigre das montanhas. Eles eram perigosos e no escuro poderiam ter vantagem sobre ela, atacando seu cavalo primeiro.

O som estava cada vez mais próximo e Katarin fez com que Jocasta recuasse. Mas foi tarde demais, duas sombras se moveram contra ela e a derrubaram do cavalo. Jocasta fugiu galopando apavorada. No escuro, ela viu dois pares de olhos vermelhos fitando-a. Enxergando-a mesmo na escuridão. Katarin sabia exatamente o que eram. Vampiros.

- Olha só, Nelius, o que nós temos aqui!- disse um dos vampiros, rondando Katarin e aspirando o ar como se estivesse farejando-a.

- Ainda está fresca!- disse o outro, dando um passo na direção dela.

Katarin não demonstrou nenhum medo porque realmente não sentia. Estava acostumada a lidar com vampiros, tinha sido bem treinada para isso. Mas mesmo assim ela sabia que estava em certa desvantagem com dois predadores em campo aberto e na escuridão. Vampiros podiam enxergar muito bem no escuro, diferente dos humanos.

- Estranho, não consigo cheirar o medo nela.- disse o vampiro que se chamava Nelius.

- Mas nós podemos fazê-la sentir medo, Nelius. Vamos nos divertir um pouco com ela, nós a sugaremos todinha. Vai morrer aos pouquinhos, princesa!

Ela deu um passo atrás pensando no jeito mais rápido de se livrar daqueles dois vampiros antes que um deles atacasse sua jugular como um leão e a imobilizasse, impossibilitando qualquer chance de fuga. Havia um punhal em sua bota direita. Katarin sempre o mantinha lá para qualquer tipo de emergência.

- Vem aqui, menina, não tenha medo... – provocou um dos vampiros.

- Você viu a cor dos olhos dela, Gerald?- indagou o outro. – Acho que vou querer um deles como troféu.

O vampiro Nelius se acercou de Katarin e tocou uma mecha do cabelo dela. O outro veio por trás e ela pôde sentir o hálito cheirando à bebida alcoólica passada. Além de sangue humano, vampiros apreciavam muito as bebidas alcoólicas. Neles o álcool não tinha o mesmo efeito que nos humanos, ao invés de entorpecê-los, deixava-os mais agitados e sedentos por sangue.

- Não tenha medo, coisinha, vai ser bom pra você também!- debochou Gerald passando sua língua pegajosa pelo pescoço de Katarin, mas o movimento ousado foi a última coisa que ele fez porque ela tinha conseguido ter acesso ao punhal em sua bota sem que eles percebessem. Vampiros possuíam visão privilegiada, mas levou apenas um milésimo de segundo para que Katarin pegasse sua arma escondida e enfiasse o punhal no peito do vampiro.

Ele caiu para trás de imediato e seu corpo se dissolveu numa poça de ácido e sangue, provavelmente o sangue da última vítima que ele tinha consumido. O outro vampiro ficou muito zangado com Katarin e a ameaçou:

- Não tenho medo de você, sua humana patética!- ele mostrou a ela uma pistola. Por essa Katarin não estava esperando.

Ela deu um passo atrás e o vampiro riu.

- Você acabou com o meu amigo, agora eu vou acabar com você!

- Tente!- Katarin provocou e correu por entre as pedras. Deveria haver um abismo ali em algum lugar. Ela sentia o vento soprando forte contra o próprio rosto, só precisava ter cuidado para não cair na mesma armadilha que estava criando para o vampiro.

Nelius correu atrás dela, veloz, dando saltos no ar, Katarin não olhou para trás, mas podia sentir a presença do vampiro atrás de si. Ela acabou tropeçando em um pedaço de rocha e caiu de joelhos na terra.

O vampiro sorriu maldoso e se lançou sobre ela, mas teve seu voo interrompido por uma espada que decepou-lhe a cabeça ainda no ar. Foi a primeira vez que Katarin o viu. Montado em seu cavalo negro, Andrei mais parecia uma entidade do que um homem. Vestido em trajes negros, os olhos verdes brilhantes, o peito forte protegido com uma armadura de prata e os cabelos cacheados moldando-lhe o rosto. Era uma imagem a ser respeitada e da qual Katarin se lembraria muitas vezes depois.

Ela o fitou diretamente nos olhos antes de indagar:

- Quem é você?

Andrei não respondeu, e sem dizer nada a agarrou pela cintura e ergueu-a no ar com tanta facilidade que deixou Katarin aturdida. Ele a colocou em seu cavalo, sentada de frente para ele entre suas coxas, quase que ao mesmo tempo, recolheu sua espada ensangüentada e colocou-a de volta na bainha.

- Mas o que está fazendo?- ela berrou e então sentiu o vento se mover mais intenso contra seu rosto e o barulho inconfundível das patas do cavalo escorregando em seixo. O abismo. Mais um passo do cavalo e eles cairiam lá dentro. Não haveria volta. Katarin sentiu o coração disparar.

- Conor!- Andrei gritou para o cavalo que deu meia volta imediatamente e galopou para longe do abismo.

Katarin estremeceu ao ouvir a voz daquele desconhecido que a segurava junto a seu corpo com tanta intimidade, prendendo-a entre suas coxas e roçando-as no tecido de couro da calça dela enquanto galopavam. Ela nunca tinha ouvido um timbre de voz como aquele, tão grave e profundo. Aquele homem era irreal e de repente, a sempre tão corajosa e de certa maneira arrogante Katarin, não soube o que fazer.

Ela se moveu inquieta contra o corpo dele e o movimento fez com que sua blusa, que estava com os cordões quase todos soltos porque Sebastian os tinha desamarrado mais cedo, escorregasse um pouco e revelasse parte de seus seios para ele.

Andrei bebeu daquela visão tentadora por alguns segundos. O vento forte das montanhas fazia com que o cheiro adocicado do corpo dela lhe invadisse as narinas e descobrisse sem tenro pescoço para ele. Ela era tão jovem e o frescor de sua juventude alimentava seu espírito de uma maneira que Andrei pensou que nunca mais seria possível. Os seios pequenos dela dentro da blusa eram dois botões de rosa delicados e tentadores. Mas antes que continuasse a ter mais pensamentos tão impróprios sobre sua protegida, Andrei virou o rosto e disse em tom enérgico:

- Feche suas vestes! Uma donzela não deve andar expondo o próprio corpo dessa maneira diante de um homem que não seja seu marido.

Katarin ouviu as palavras dele e imediatamente agarrou os cordões da blusa, amarrando-os novamente. Ainda que ela não soubesse quem era aquele homem e que ele não tivesse o direito de falar com ela naquele tom, sabia que não deveria ter seus seios expostos para um desconhecido.

- Diga-me quem é você!- ela exigiu.

- Só importa agora saber que eu sei quem é você, Katarin de Elrich!- respondeu Andrei.

- Como você sabe quem eu sou?Quem o mandou aqui?

Ele não respondeu e manteve o galope constante do cavalo levando Katarin para um destino que ela desconhecia. Isso a deixou muito irritada. Não importava que aquele homem tivesse acabado de salvar sua vida, ele não tinha nenhum direto sobre ela, e mais, talvez a tivesse salvado porque a queria para si. Assim era a vida que Katarin conhecia. Cheia de sofrimento e escuridão. Não havia boas intenções na Romênia, não enquanto existissem seres demoníacos como os vampiros e seres humanos mal intencionados que se uniam a eles. Aquele homem provavelmente queria usá-la, se aproveitar dela e quem sabe matá-la depois que tivesse conseguido o que queria?

Não importava o quanto a aparição repentina dele tivesse mexido com ela de um jeito que Katarin sequer compreendera. Ela precisava se livrar dele e rápido. De que adiantaria ter fugido de Brimstone se pereceria nas mãos daquele desconhecido?

Como sempre, sua mente trabalhou depressa e esticando a mão bem devagar, ela conseguiu pegar seu punhal escondido na bota direita, e sem pensar duas vezes usou-o contra Andrei com a intenção de golpeá-lo na coxa esquerda, mas incrivelmente, a mão grande dele foi mais rápida e apertou a mão pequena dela na sua, impedindo-a de machucá-lo. O aperto da mão dele era tão forte que Katarin sentiu um pequeno estalo em seus ossos.

- Oh!- ela gemeu de dor e de surpresa. Andrei soltou a mão dela e Katarin a massageou com a outra mão tentando conter a dor aguda que ameaçava se espalhar ao longo de seu braço direito.

- Garota estúpida!- ele praguejou, zangado. – O que estava pensando?

- Que eu não sei quem você é, homem estúpido!- respondeu ela. – Pra onde está me levando? O que pretende fazer comigo?

- Isso não importa agora!- disse Andrei. – O que importa é que eu salvei sua vida e você sequer me agradeceu por isso.

- Obrigada.- disse ela com ironia. – Agora me deixe ir!

- Você não vai a lugar algum... – disse ele, e Katarin estava prestes a refutar outra vez quando ela avistou uma estranha movimentação nas montanhas.

Era um grupo de cavaleiros ao longe, munidos com tochas. Deveria ter pelo menos uns dez homens ali e estavam no local onde ela estivera com Sebastian momentos antes. Katarin sabia quem eram. Vladimir e seus homens. Eles tinham vindo buscá-la para a forca da qual ela tinha fugido. De repente, o medo apossou-se dela. Enquanto estava em Brimstone sem possibilidade de escapar, Katarin estava conformada, aguardando a própria morte. Mas agora que tivera a oportunidade de fugir, galopar e ver as montanhas outra vez, Katarin percebeu que queria muito viver. Que queria ir para longe de Brimstone e conhecer o mundo, experimentar coisas novas, ter uma vida diferente da que vinha levando há dezessete anos.

- Por favor, pare!- ela sussurrou para Andrei antes que ele se aproximasse muito do grupo de cavaleiros. Ainda estavam ocultos pela escuridão e o cavalo dele se movia com tanta leveza que não denunciara a chegada deles.

Andrei puxou as rédeas do cavalo e parou. Não pretendia fazer nada do que Katarin dissesse a ele, mas o tom de voz amedrontado dela, tão diferente do que ela usara momentos antes ao ameaçá-lo fez com que ele parasse.

Ela se voltou para ele e Andrei fitou seu belo rosto. Uma nuvem que cobria a lua minguante afastou-se vagarosamente e ele pôde ver com mais clareza o rosto dela. Ela tinha a pele morena, de uma delicadeza que chegou a impressioná-lo, o nariz pequeno e os lábios cheios. Os olhos eram de um tom profundo de azul, mas escuros como a noite. Andrei nunca tinha visto olhos como aquele.

Embora ele soubesse que ela era uma guerreira e mesmo depois de tê-la visto em ação matando o vampiro que a atacava sem nenhum tipo de hesitação, Katarin não era mais do que uma menina com uma responsabilidade pesada demais sobre os ombros. O corpo que ele tinha nos braços era pequeno e curvilíneo, mostrando que ainda que fosse muito jovem, ela era uma mulher muito desejável. Seus quadris largos mostravam aptidão física natural para a maternidade, diferente das muitas mocinhas que ele conhecera na Corte, meninas franzinas e doentes, com suas cinturas excessivamente esguias, meninas que estavam fadadas a morrer dando a luz ao primeiro filho.

Katarin não, ela parecia muito saudável, bem alimentada, corpo forte e definido, porém delicado e feminino. Definitivamente não seria difícil lhe arrumar um marido. Bastava vesti-la com o modelo da última moda, somado ao pomposo dote que o pai lhe deixara e Katarin de Elrich seria uma mulher casada em poucos meses.

- Me ajude, por favor... – ela pediu de repente, tirando-o de seus devaneios.

- Ah, agora você precisa da minha ajuda?- ele debochou.

Ela voltou-se na direção dos cavaleiros e disse a ele com inegável pânico em sua voz:

- Aqueles homens querem me matar. Eu poderia lutar contra eles, mas são muitos para eu enfrentar sozinha. Eu os conheço, são guerreiros muito bem treinados.

Andrei não disse nada e Katarin ficou mais nervosa. Em seu desespero, ela tentou uma outra de forma de abordagem com ele:

- Olha, me desculpe por ter gritado com você e também por ter tentado te machucar, mas eu realmente preciso de ajuda. Se me pegarem, aqueles homens irão me matar. Se me ajudar farei o que você quiser...

- Que tipo de coisa?- Andrei perguntou com a sobrancelha erguida, mas já fazia idéia do que se tratava. Sentiu pena dela, uma jovem tão bonita tendo que se oferecer para um homem para garantir a própria sobrevivência. Era assim que a vida das meretrizes se iniciava. Naquele momento, Andrei jurou a si mesmo que jamais permitiria que Katarin caísse naquele tipo de vida.

- O que você quiser!- ela repetiu. – Se você prometer que não vai me machucar, eu irei com você e... – ela hesitou, mas disse: ...deixarei que desfrute de meu corpo. Mas por favor, eu imploro, me ajude a fugir!

Os lábios dela tremiam e ele sabia que ela queria chorar, mas Katarin não chorou, manteve a cabeça erguida, mesmo que estivesse oferecendo seu corpo para um homem em troca da própria vida. Ele a admirou por sua coragem e persistência, mas não podia se permitir ter qualquer tipo de sentimento por ela, Katarin de Elrich seria apenas sua protegida por pouco tempo e logo ele poderia retomar sua vida regrada e solitária de volta como tinha de ser, assim que se livrasse dela. Portanto, o lorde tinha que fechar seus olhos àquela beleza incomum e ao súbito desejo que o perseguia desde que a vira momentos antes lutando contra dois vampiros, sozinha na escuridão das montanhas.

- Você se tem em alta conta, não é garota estúpida?

Katarin o fitou profundamente nos olhos e Andrei quase fraquejou diante da força do olhar dela, mas manteve a postura irônica e indiferente.

- Se está com medo daqueles homens, eu não sou a melhor pessoa a quem deve pedir ajuda.

- Por quê?- ela retrucou. – Salvou a minha vida, foi você mesmo quem disse.

- Tudo nessa vida tem um preço, Katarin.- disse ele. – Terá que encarar seu novo destino e para isso estou aqui, para garantir que o faça. Por isso a levarei agora mesmo até Vladimir. Ele está esperando por você.

- O quê?- Katarin balbuciou, de repente muito decepcionada com o desconhecido.

Continua...
Ir para o topo Ir para baixo
Renata Holloway
Fãs
Fãs
Renata Holloway


Mensagens : 96
Data de inscrição : 12/01/2010
Idade : 41
Localização : Pandora

O Diário da Lady (NC-17)- Fanfiction inspirada em Bloodrayne. SPOILERS! Empty
MensagemAssunto: Re: O Diário da Lady (NC-17)- Fanfiction inspirada em Bloodrayne. SPOILERS!   O Diário da Lady (NC-17)- Fanfiction inspirada em Bloodrayne. SPOILERS! Icon_minitimeDom Fev 07, 2010 8:46 pm

Capítulo 2- Lady Katarin Elena, a Viscondessa de Elrich

Brimstone, 18 de agosto de 1708.


Meu último dia em Brismtone. Ainda trancada em uma cela, cercada pelas escuras paredes de pedra da fortaleza que amei e defendi durante minha vida inteira, tento definir o que estou sentindo agora e sinto vontade de rir histericamente ao concluir que meu atual sentimento em relação à sentença que me foi homologada no dia anterior durante o tribunal do júri é de frustração. Pura e simples frustração.

Eu, nascida há dezessete anos em berço de ouro, aristocrata, filha do Visconde Lorde Ares de Elrich serei enforcada esta tarde ao pôr-do-sol por traição diante dos olhos dos camponeses a quem jurei defender. E morrerei jamais tendo conhecido outra vida que não esta. Só posso imaginar como devam viver as outras jovens nobres que não foram levadas a morar em um quartel-general de guerreiros ainda bebê.

Algumas vezes, meu pai me levava à Gherla. Lembro-me uma vez em particular de ter visto meninas da idade que eu tinha na época, passeando com suas mães e amas, fazendo compras no mercado da cidade. Compravam bonecas, fitas e vestidos. Eu só tive uma boneca que a boa Sra. Florina fez para mim quando eu ainda era uma menina e que guardo com carinho até hoje entre os meus pertences. Lembro que de alguma maneira eu invejei aquelas meninas de Gherla porque elas podiam brincar e passear com suas mães enquanto eu estava aprendendo a esgrimir. Meu pai tinha me prometido de presente minha primeira espada.

E esse foi um dos poucos contatos que eu tive com a vida fora de Brimstone. Depois disso, comecei a crescer depressa e a aprender a lutar como um homem. A matar como um homem. Sou uma assassina cruel, sem nenhum tipo de remorso em relação às minhas vítimas. Quando consenti em colaborar com o plano de meu pai não cheguei a pensar nas pessoas de Brimstone, no que aconteceria a elas se os homens de Kagan conseguissem destruir a fortaleza. Eu só conseguia pensar que não poderia deixar Kagan arruinar a liberdade dos seres humanos. O ideal pelo qual venho lutando a vida inteira.

No entanto, falhei nos meus propósitos e agora sou a vergonha de Brimstone. Serei morta, mas não de forma honrosa como um mártir, morrerei como a espiã, a traidora. Minha morte servirá de exemplo aos que tentarem se levantar contra a Sociedade Secreta de Brimstone novamente e os abutres comerão minha carne amaldiçoada no final.

E mais uma vez venho falar de frustração. Tudo o que conheci em minha vida foi a guerra, os vampiros, o sangue, a morte. Sou capaz de sentir cheiro de sangue há quilômetros de distância. Quando estou dormindo consigo ouvir o gemido horrendo de dor dos muitos vampiros que matei, e não somente vampiros. Mais de uma vez tive que matar humanos. Não eram boas pessoas, mas isso não significa que gostei de matá-los.

Uma pessoa em especial a quem eu matei não faz muito tempo vem perseguindo-me nos meus sonhos. Uma garota que encontramos no circo dos horrores quando estávamos procurando por Rayne. Ela era muito jovem e bonita, uma cigana. Vi a marca no pescoço dela. Ela seria uma vampira em pouco tempo. Eu não tinha escolha senão matá-la. Mas me lembro que ela não implorou por sua vida, era amiga de Rayne e implorou pela vida dela, mesmo tendo sido mordida por aquela a quem chamava de amiga. Não pude acreditar naquilo. Aquela lealdade me assustou e acho que se eu pudesse voltar atrás, talvez não tivesse matado aquela garota.

Se tudo que conheci em minha curta vida foi a morte, pergunto-me existe beleza no mundo além daquela que consigo enxergar nos bosques e montanhas?Existem lugares que não sejam rodeados por sombras onde as pessoas não saibam da existência das criaturas da noite e vivam em completa e feliz ignorância? Essas mesmas pessoas conseguem dormir à noite sem terem medo de serem atacadas? Se um lugar como esse existe, a partir do momento em que minha sentença foi anunciada, perdi a chance de conhecê-lo para sempre.

Agora me dou conta, diante das poucas horas que ainda me restam de vida, que sou apenas uma mulher. Uma mulher com sonhos tolos e secretos. Nunca conhecerei o amor de um homem, nunca saberei como é ser tocada por um. Nunca darei à luz a filhos que me amariam tão incondicionalmente quanto amei meu pai.

Ontem, ao ouvir a sentença de morte sendo proferida pelo mesmo homem que um dia foi meu protetor, senti tanto medo que minha mente se apagou e minhas pernas fraquejaram. Mas infelizmente não apaguei completamente, quisera tivesse acontecido. Ainda pude sentir os braços de Sebastian ao redor do meu corpo, me carregando de volta para a minha cela e acho que ouvi Vladimir sussurrar junto ao meu ouvido, “sinto muito pequena Kat.” Mas não tenho certeza se foi isso realmente o que eu ouvi.

Então os abutres de Brismtone vieram ver o resto de carniça que eu havia me tornado. Eles devem ter sentido muito prazer em me ver tão debilitada, tão enfraquecida. Principalmente a Rayne. Ela deve ter se divertido mais do que todos. Maldita! Ela sugaria todo meu sangue se tivesse a chance.

Mas Sebastian foi tão amável. Ele cuidou de mim. Deixou de lado seus ressentimentos e me trouxe de volta para a cela. Deu-me um gole de conhaque e disse que tudo ia ficar bem, embora eu saiba que não vai ficar tudo bem. Eu o amo muito. Amo o Sebastian. Gostaria de ter coragem de dizer isso a ele antes que a corda da forca esteja suficientemente presa em meu pescoço.

Só espero que seja rápido. Que eu sufoque tão rapidamente que no momento seguinte eu não sinta mais nada. Ainda assim, sei que minha paz de espírito não durará muito porque um novo julgamento estará me esperando no inferno.



- Onde está Katarin?- indagou Florina à Sebastian na porta do aposento, no subsolo do castelo que fazia divisa com a cela de Katarin. Ela trazia nas mãos um cobertor e uma tigela de Ciorba de Burta 1recém saída do fogo.

- Na cela!- indicou ele, mostrando Katarin que estava deitada em uma cama estreita, toda encolhida, os joelhos juntos e dobrados. – Ela está bem. Eu dei uma dose forte de conhaque pra ela depois que a trouxe pra cá. Ela até já se levantou e me pediu pena e nanquim para escrever em seu diário.

- Francamente Sebastian!- disse a velha senhora mostrando irritação. – Como pode dizer que Katarin está bem? Ela será enforcada amanhã!- ela sussurrou as últimas palavras.

Florina era uma mulher na casa dos sessenta anos. Ela era a viúva de um dos guerreiros de Brimstone e nunca tinha tido filhos. Cuidou de Katarin desde que Elrich há trouxera de Gherla há dezessete anos atrás. Apesar de não concordar com o que ela havia feito, Florina não concordava que Katarin devesse ser morta. Ela acreditava que fora o maldoso Elrich quem a convencera a trair Brimstone e se Vladimir tivesse prestado atenção ao que estava acontecendo ao seu redor ao invés de ficar pajeando a tal damphir, nada disso teria acontecido. Katarin poderia ter sido impedida de agir antes mesmo que Elrich sonhasse em enviar os homens de Kagan para Brimstone.

- Ela escolheu esse caminho, Sra. Florina.- disse Sebastian. – Eu também lamento muito por Katarin, mas o que eu posso fazer?

- Pra começar deveria levantar seu traseiro dessa cadeira e ir falar com Vladimir enquanto é tempo. A sentença definida pelo júri foi absurda!

- Mas Katarin traiu Brismstone!- disse Sebastian embora concordasse com ela a respeito da sentença. Ele também não queria ver Katarin morta.

- Mas o pior foi evitado.- Florina complementou.

- Graças a Rayne.- disse ele.

- Rayne.- Florina pronunciou o nome dela sem emoção. – Sei que está de namorico com essa moça, Sebastian, mas não deixe sua paixão influir na sua racionalidade. Rayne não está lutando por Brimstone pela mesma razão que nós estamos lutando. Ela não é humana e tem em seu poder as três partes que restaram do vampiro Beliar. Se ela decidir nos trair ficaremos arruinados!

- Ela não nos trairá!- assegurou Sebastian.

Florina fez um gesto de derrota nas mãos e disse:

- Não vim aqui para discutir sobre o caráter da damphir com você, quero apenas cuidar de Katarin nem que seja pela última vez .

Sebastian deu passagem para que ela entrasse no aposento e abriu a porta da cela de Katarin. Florina entrou e depositou a tigela de sopa em uma banqueta, antes de se ajoelhar ao lado da estreita cama e tocar os longos cabelos de Katarin.

Ela assustou-se e instintivamente ergueu os braços e apertou suas mãos ao redor do pescoço da mulher.

- Katarin!- Sebastian gritou e ela pareceu voltar à realidade, soltando o pescoço de Florina.

A mulher esfregou a pele engelhada e ofegou recuperando a própria respiração.

- Sinto muito, Florina...eu não quis...ah, me desculpe!

- Tudo bem, menina Katarin. Eu deveria ter chamado seu nome antes de tê-la tocado.- disse Florina. – Esqueci que guerreiros possuem um sexto sentindo aguçado.

- Meu sexto sentido não anda muito bom.- disse Katarin com um suspiro cansado.

- Como está se sentindo?- Florina indagou, tocando a testa dela.

Katarin ergueu uma sobrancelha e respondeu, sarcástica:

- Estou ansiosa pelo show de amanhã.

- Não precisa fingir pra mim que não está com medo.

Katarin olhou para Sebastian que observava as duas e resolveu esperar do lado de fora do aposento para dar um pouco de privacidade para que elas conversassem.

- Ainda está apaixonada por esse imbecil?- ela indagou e Katarin deu de ombros.

- Que diferença isso faria agora?

- Ah, minha pobre menina, você é uma nobre, precisa conhecer um cavalheiro educado, distinto, inteligente, com um título e principalmente que seja alto, forte, musculoso, virl...

- Você sabe que não estou interessada em casamento, Rina. – Katarin a chamou pelo apelido que costumava chamar na infância. – Ainda mais agora. Seria tão estúpido fazer planos!

- A sua sorte pode mudar, criança, sabe disso não sabe?

- Minha sorte não irá mudar, Rina e você sabe disso!

- Eu tirei as cartas pra você.- Florina confessou. Um de seus muitos talentos era saber prever o futuro.

- Você não se atreveu!- resmungou Katarin.

- Eu tive que fazer isso. Precisava saber se você ficaria bem. Não posso me conformar com a sentença!

- E o que você viu nas cartas?- Katarin indagou, mas sem esperanças. Não havia nada que pudesse mudar sua condição de condenada à forca.

- Não vi a morte, menina!- garantiu Florina. – Mas vi paixão, muita paixão!

- Paixão?- Katarin retrucou. – Rina, não me venha com bobagens...

- Não é bobagem, menina! Eu vi! Mas além de paixão, eu vi sofrimento, dor.

- Você deve ter visto a forca!- concluiu Katarin sentindo a cabeça pesada. À medida que as horas passavam, o coração dela se apertava e ela quase podia sentir o hálito da morte soprando contra seu rosto.

- Eu tenho certeza do que vi!- insistiu Florina. – Agora procure se acalmar, alguma coisa vai acontecer e mudar o rumo dos acontecimentos.- ela pegou a tigela de sopa sobre a mesa. Tome, coma um pouco.

Katarin olhou para a sopa dentro da tigela e seu estômago voltou a revirar. Ela virou o rosto e disse:

- Eu não quero comer!

- Mas você precisa comer, querida. Está tão fraca. Não tem comido quase nada do que tenho te mandado.

Ela recusou a comida veementemente. Florina suspirou e tirou dois gogosis2 do avental do vestido dela e colocou-os nas mãos de Katarin.

- Isso eu sei que você não vai recusar.

Katarin olhou para o doce em suas mãos e sorriu.

- Obrigada, Rina. Por tudo o que fez por mim desde que cheguei à Brimstone. Você tem sido uma mãe pra mim.

Florina a abraçou.

- Eu te amo, pequena Katarin.

- Então você me perdoa pelo que fiz?

A mulher beijou a testa dela.

- Sim, meu pequeno anjo. Como não poderia perdoar?

Sebastian retornou ao aposento e Florina ergueu-se, despedindo-se com o olhar. Katarin mordiscou um pedaço do pão banhado em chocolate e açúcar. Antes de sair, Florina ainda disse:

- É melhor cuidar bem dela Sebastian ou eu quebrarei o seu pescoço e o da sua namorada vampira.

Depois que ela se foi, Katarin voltou a se encolher na cama e fechar os olhos. Mas dessa vez estava pensando sobre o que Florina dissera ter visto nas cartas. Dor e sofrimento faziam sentido e eram conseqüências de seus atos, mas paixão? Da onde sua velha amiga tinha tirado isso? Katarin não conseguia ver nada em seu futuro além da corda em seu pescoço, o tablado de madeira debaixo de seus pés e o carrasco que a empurraria lá de cima no dia seguinte.

xxxxxxxxxxxxxxx

A paisagem montanhosa da Romênia era ainda mais perceptível na região onde se situava a cidade de Gherla. Estava amanhecendo quando a carruagem vinda de Bucareste com o brasão de Tulcea pintado nas portas subia com dificuldade o morro próximo à muralha que protegia a cidade. Andrei galopava ao lado do veículo que levava seu secretário Adrianno e a Srta. Eleanor. Faltava pouco para que eles chegassem à casa do Visconde de Elrich.

Logo eles adentraram os portões da cidade de Gherla. A jovem Eleanor observou o cenário através da janela da carruagem. Diferente de Bucareste, o clima em Gherla era mais frio. A cidade também tinha uma aparência suja, as ruas estavam infestadas de lixo. Havia pessoas dormindo no chão ou mendigando alimentos. Prostitutas nas esquinas e crianças subnutridas chorando de fome.

Um homem de aparência estranha se aproximou da carruagem e sorriu de maneira maliciosa para Eleanor lá dentro. Ela se encolheu de maneira instintiva e o homem fez menção de avançar para a janela, mas Andrei que galopava a frente em seu garanhão negro se aproximou de imediato e intimidou o homem com apenas um olhar.

- Vá embora!- Andrei acrescentou e o homem saiu correndo.

- É melhor que não fique na janela, Eleanor.- Andrei advertiu e a moça obedeceu, puxando a cortina branca que servia para cobrir o vidro da janela.

- Eu disse a você!- comentou Adrianno, repreendendo Eleanor por ter se atrevido a pôr o rosto para fora da janela. – Não estamos em uma cidade civilizada e você não está acostumada com isso.

Eles seguiram caminho dentro da cidade. As pessoas olhavam para a pequena comitiva de Andrei quando eles passavam. Além dele, do secretário e da senhorita Eleanor, os acompanhavam dois homens de confiança de Andrei. Ninguém mais se atreveu a se aproximar deles. Ao que tudo indicava Lorde Andrei era intimidante o bastante para mantê-los longe.

Quando eles chegaram à residência de Ares de Elrich no final de uma rua estreita e pouco movimentada, Andrei desceu de seu cavalo e bateu na aldrava da porta duas vezes. Um mordomo idoso, franzino e assustado veio atender.

- Boa noite, milorde.- ele disse a Andrei numa educada mesura, porém sem fitar os olhos do nobre.

- Boa noite.- respondeu Andrei. – Eu sou Andrei de Tulcea e vim ver o secretário do falecido Lorde Ares de Elrich.

- Oh!- exclamou o mordomo, parecendo mais animado. – Estávamos esperando pelo senhor, mestre Andrei.

- Diga-me onde posso guardar minha carruagem para que meus animais possam descansar? Também preciso de um lugar onde meus homens possam ficar enquanto trato do assunto que vim tratar.

O mordomo fez um gesto voltado para o lado de dentro da casa e um lacaio veio depressa.

- Jax, abra os portões do lado e conduza os homens de Mestre Andrei até o estábulo de Lord Elrich. Em seguida leve-os à cozinha para que Denise sirva algo para eles comerem.

Andrei entregou seu cavalo a um de seus homens e abriu a porta da carruagem para que Eleanor descesse. Conduziu-a pelo braço até a porta da mansão de Elrich. Adrianno os acompanhou.

- Este é Adrianno, meu secretário e esta é a senhorita Eleanor.

- Boa noite, senhor e senhorita.- o mordomo os cumprimentou e convidou-os a adentrar a casa.

Era uma residência escura e sem vida, com móveis empoeirados e quadros nas paredes cobertos com lençóis brancos. Mas nem Eleanor, nem Adrianno pareciam impressionados com isso. Andrei menos ainda.

- Aceitam alguma coisa para beber?- indagou o mordomo, solícito.

- Uma xícara de chá seria bom.- disse Eleanor. Adrianno também disse que aceitaria uma.

- Não quero nada, obrigado.- disse Andrei. – Só quero falar com o secretário de Elrich imediatamente. Quanto antes formos embora, melhor.

O mordomo assentiu e deixou o aposento por alguns instantes. Eleanor afastou um pouco de poeira do sofá e sentou-se, indagando a Andrei:

- Onde está a garota, mestre Andrei?- ela estava curiosa. Quando ele ordenara a ela que os acompanhasse na viagem, dissera que precisava dela porque iria buscar uma viscondessa em Gherla, da qual ele seria o tutor a partir de então. Uma garota para a qual ele teria que conseguir um casamento vantajoso.

- Na carta dizia que ela estava em um lugar chamado Brimstone. Mas antes de irmos até lá eu preciso dos documentos que me nomeiam o tutor legal dela, e também de um mapa com a localização do lugar.

- Brimstone?- Eleanor retrucou. – A lendária Brimstone?

Andrei assentiu. Eleanor pareceu um pouco impressionada, mas guardou seus pensamentos para si como costumava fazer sempre. Essa era uma das razões pelo qual Andrei gostava tanto dela. Ela era uma mulher eficiente em suas atividades e discreta em seus comentários. Mas sabia argumentar como ninguém quando solicitada.

O mordomo logo voltou com o chá, acompanhado por Zane, o antigo secretário de Elrich.

- Mestre Andrei!- ele fez uma reverência e entregou um enorme rolo de papéis para Andrei.

Andrei os examinou atentamente enquanto Adrianno e Eleanor degustavam o chá. Eram papéis assinados por Elrich passando autorizando-o a ser o novo tutor de Katarin Elena de Elrich até a maioridade dela, além de outros papéis tornando-o curador da fortuna dos Elrich, das propriedades e do dote de Katarin. Tudo passaria para as mãos dela através do casamento ou quando ela completasse vinte e um anos. Juntamente com esses papéis, havia uma carta endereçada a Katarin. Deveria ser a tal carta de despedida que o pai lhe deixara.

- Isso foi tudo o que Lorde Elrich deixou para o senhor.- comunicou o secretário. – A partir de agora o senhor é o administrador de todo o patrimônio dos Elrich, incluindo esta casa. Com estes documentos o senhor pode dispor de 40 % da fortuna da herdeira de acordo com os interesses dela. Com a morte de Lorde Elrich, o título de Visconde, como o senhor deve saber passa para ela já que meu antigo mestre não teve filhos homens. É importante que o senhor saiba que apesar de estar de posse desses documentos, não poderá extrair da fortuna dos Elrich mais do que 40% para os gastos com a filha dele. Também não poderá vender nenhuma das propriedades da família.

- Não estou interessado nisso.- disse Andrei. – Ou em qualquer patrimônio pertence aos Elrich. Irei apenas tutelar Lady Katarin até ela arranjar um marido que possa assumir tudo, enquanto isso administrarei os bens de Elrich incluindo esta casa. Não demitirei nenhum criado, não precisam se preocupar com isso.

- Deus abençoe o senhor!- disse o mordomo que estivera realmente preocupado depois da morte de Elrich.

- Não acho que Ele o faria.- disse Andrei sem emoção.

O secretário tirou um último pergaminho de papel do casaco e o entregou a Andrei, dizendo:

- Lady Katarin está em Brimstone. Aqui está o mapa de como chegar lá. Era o desejo de milorde que o senhor decore o caminho e depois destrua o mapa para que ninguém descubra a localização da fortaleza.

- Compreendo.- falou Andrei. – Diga-me Zane, do que Elrich morreu?

- Tuberculose, mestre.- respondeu o secretário, mas Andrei soube que ele estava mentindo. Acaso o secretário de Elrich pensava que Andrei fosse algum tolo e não soubesse que o antigo patrão dele era um vampiro. Vampiros não morriam de doenças. Elrich fora assassinado enquanto executava seu plano contra Kagan e como ele mesmo afirmara na carta que enviara, havia falhado e agora sua filha corria perigo.

- Por que Elrich manteve a filha única dele em Brimstone? Com certeza o lar dos guerreiros não é o lugar para uma moça da nobreza ser criada.- Andrei acrescentou com curiosidade. Quando conhecera Elrich na batalha de Isaccea há dezessete anos atrás, Andrei sequer sabia que ele tinha uma filha.

- Então o senhor não sabe?- retrucou o secretário. – Lady Katarin cresceu em Brimstone e foi treinada para ser uma guerreira. Embora seja uma nobre, duvido muito que saiba se portar como uma.

Era só o que faltava, pensou Andrei. Além de ter que lidar com uma adolescente mimada, ele teria que enfrentar uma guerreira de Brimstone? O que Elrich estava pensando quando decidira fazer dele o tutor de sua filha? O que seria mais estranho do que ter uma caçadora de vampiros em seu castelo?

xxxxxxxxxxxxxxxxx

Já passava das três da tarde quando Sebastian procurou Vladimir em sua alcova para conversar sobre a situação de Katarin. O líder de Brimstone parecia pensativo enquanto tomava uma dose forte de vodka. Sebastian havia deixado Marcus vigiando a cela de Katarin, não por medo de que ela fugisse de lá, mas por receio de que as pessoas pudessem fazer algum mal a ela como vingança pelo que Katarin tinha feito.

- As pessoas estão se preparando para o show, Vladimir.- disse Sebastian. – Katarin será enforcada em mais ou menos três horas. Agora a pergunta é: o que iremos fazer sobre isso?

Vladimir tomou mais um gole da vodka e fitou Sebastian. O rosto dele estava abatido e vermelho e a umidade em seus olhos mostrava que ele tinha chorado.

- Você, Sebastian, eu não sei. Mas eu, ficarei aqui! Não posso assistir ao enforcamento.

- O quê?- Sebastian retrucou. – Você vai ficar aqui de braços cruzados e deixar Katarin ser morta? É isso?

- Sebastian, você não entende? Katarin infringiu a lei mais importante do código de honra de Brimstone, ela traiu nosso povo revelando nosso esconderijo ao inimigo. Se não fosse por Rayne, todos estariam mortos agora. Se nós a ajudarmos, seremos os próximos a serem enforcados. Então o melhor é que fujamos os três e abandonemos Brimstone. Você sabe que se eu me for, os vampiros vão descobrir que a cidade está desprotegida e o distrito de Gherla estará arruinado, todos os humanos da região irão desaparecer e isso será só o começo! A sociedade de Brimstone vem enfraquecendo ao longo dos anos...ainda existem vampiros poderosos como Kagan por aí! Precisamos derrotá-los!

- Vladimir, eu entendo tudo o que está dizendo e sei que Katarin errou, mas eu não posso ver minha melhor amiga ser enforcada! Perdoe-me, mas Kat é mais importante pra mim do que Brimstone!

- Mais importante do que Rayne?- Vladimir indagou de repente.

- Rayne não tem nada a ver com isso!- disse Sebastian.

- Então salve-a, Sebastian! Você é o único que pode fazer isso! Na minha posição estou de mãos e pés atados, mas você não é o líder de Brimstone e eu jamais diria a alguém que foi você quem a deixou fugir. Seria nosso segredo. Um pacto entre pai e filho, porque é isso o que você e Katarin são para mim, meus filhos.

- Então eu o farei!- garantiu Sebastian com determinação. – Levarei Katarin daqui e a esconderei nas montanhas até que ela possa partir para bem longe de Brimstone e recomeçar sua vida. E ninguém saberá disso além de nós dois.

Vladimir olhou para uma ampulheta que estava em cima da mesa de madeira escura, era o único móvel além da cama no aposento dele. A sociedade de Brimstone não poderia ser chamada de abastada.

- Se vai fazer isso, então deve correr! Não temos muito tempo!

Sebastian assentiu e deixou o quarto de Vladimir sem dizer mais nada. Ele estava descendo as escadas, a mente fervilhando de idéias a respeito de maneiras de poder tirar Katarin de Brimstone sem levantar suspeitas quando Rayne surgiu de repente, assustando-o.

- Rayne!- ele exclamou tentando recuperar a calma ao notar que era ela quem o espreitava. – Já disse a você para não aparecer desse jeito.

- Pra um guerreiro de Brimstone você tem andado muito distraído, Sebastian.- ela o provocou. – O que o inquieta tanto?

Sebastian balançou a cabeça negativamente antes de dizer:

- Ás vezes eu acho que não conheço você.

- Como pode dizer isso?- Rayne retrucou. – Olha, eu não sou insensível, sei que está chateado por causa da Katarin, mas...

- Estou mais do que chateado, Rayne! Será que não consegue entender? Katarin é a minha melhor amiga!

- Ela era a sua melhor amiga antes de trair Brimstone!- disse Rayne.

Ele deu um sorriso amargo.

- Engraçado você dizendo isso. E quanto à história que me contou? Sobre quando você fugiu do Circo dos Horrores e acidentalmente mordeu sua amiga. A única pessoa que realmente se importava cm você. Você a traiu, Rayne, mas sabe que ela a perdoou.

- Aquilo foi diferente!- disse ela, mas seus olhos estavam baixos. Lembrar-se sobre o que tinha feito a sua única amiga antes de juntar-se à Brimstone a fazia sentir-se envergonhada.

- Não vejo porque Katarin seria diferente de você. As duas cometeram o mesmo erro. Deixaram-se levar num momento de desespero. Agora, por favor, eu queria ficar um pouco sozinho.

Rayne assentiu e o deixou passar. Ela sabia que tinha feito a coisa certa ao contar no julgamento o que Katarin tinha feito, mas ao mesmo tempo se sentia mal por condená-la, especialmente por causa dos sentimentos de Sebastian em relação a ela. Mas o que estava feito, estava feito, ela não iria contra o povo de Brimstone. O único povo que foi capaz de acolhê-la e aceitá-la como ela era de verdade.

xxxxxxxxxxxxxxx

Andrei pediu a Adrianno e Eleanor que esperassem por ele na mansão de Elrich enquanto ele ia buscar Katarin em Brimstone acompanhado apenas por Glauco, um de seus homens. O outro, chamado Aristides ficou para protegê-los durante sua ausência.

Pelo que Elrich tinha dito na carta sobre envolver Katarin em seus planos, associado à afirmação do secretário dele de que ela era uma guerreira, Andrei só pôde concluir que a garota deveria estar muito encrencada agora.

Ele não conhecia Vladimir de Brimstone, mas já ouvira muitas histórias sobre ele na Corte em Bucareste. Os aristocratas não se preocupavam com o que acontecia no submundo romeno, mas mesmo assim gostavam de fofocar e contar histórias sobre a sociedade a qual não pertenciam. Eles diziam que Vladimir era um homem singular e justo apesar de não ter berço. E que sua exímia habilidade com a espada era lendária. O General Titus afirmara durante uma ceia no palácio certa vez que se o exército romeno iniciasse uma guerra contra outro país, Vladimir deveria ser admitido no exército como chefe de táticas de guerra mesmo que não tivesse sangue nobre.

Ora, se Elrich afirmou em sua missiva que Katarin traíra Brimstone, e ela sendo uma das guerreiras da lendária sociedade que lutava contra os vampiros, Vladimir deveria estar odiando-a agora. Ela provavelmente seria punida e só havia dois tipos de punições para uma traidora que ele conhecia: ser enforcada ou ser violentada pelos homens pertencentes à sociedade. Esta era uma das histórias sobre Brimstone que contavam na Corte. Andrei só esperava que não estivesse chegando tarde demais para resgatar a moça ou sua dívida com Elrich jamais seria paga.

Seguindo o mapa, Andrei pagou três moedas de ouro a um barqueiro no cais de Gherla. O homem atravessou-os pela baía enevoada até o esconderijo dos caçadores de vampiros: a fortaleza de Brimstone.

Antes mesmo de descer do barco Andrei pôde visualizá-la. Era um enorme e velho castelo de pedra, imponente com suas paredes cobertas de limo. Uma muralha feita de grandes blocos de pedra protegia o castelo e as pequenas casas de barro e telhado de palha dos camponeses que viviam ao redor.

O pequeno barco ancorou no calçadão lodoso diante da muralha e Andrei ordenou ao barqueiro que o aguardasse porque ele retornaria à Gherla imediatamente. Ao avistarem o barco, cinco guerreiros de Brimstone, entre eles uma mulher, foram receber o Lorde muito intimidadores armados com espadas, arcos e clavas.

Andrei pulou para fora do barco e sua capa negra voou ao redor de seu corpo devido ao vento intenso trazido pelo mar. Glauco o seguiu. Ambos não demonstravam qualquer medo dos guerreiros de Brimstone.

- Quem é você?- indagou o guerreiro mais alto apontando seu arco diretamente para o peito de Andrei.

- Sou Lorde Andrei de Tulcea.- ele respondeu com sua voz grave, quase inumana. – Vim para falar com Vladimir de Brimstone.

xxxxxxxxxxxxxx

Katarin se levantou quando Sebastian veio abrir a porta de sua cela para levá-la ao seu destino final. Na área livre que ficava dentro do castelo, um palanque tinha sido montado e uma corda estava sendo amarrada naquele exato momento na coluna de madeira da onde o corpo dela mergulharia para a morte em alguns minutos. Todos estavam reunidos ao redor do palanque esperando pelo suspiro final da traidora.

Florina observava os preparativos para a execução de Katarin ainda com esperanças de que algo acontecesse para salvá-la daquela situação. Vladimir descera de seus aposentos para saber se Sebastian seria mesmo capaz de ajudar Katarin a fugir. Ele tinha suas dúvidas. Não que acreditasse que o garoto fosse covarde, mas Vladimir sabia que seria muito arriscado ir contra Brimstone e aqueles não eram tempos fáceis para ser banido e sobreviver sozinho nas vilas e cidades à mercê dos vampiros.

Katarin caminhou resignada ao lado de Sebastian em direção ao seu calvário, suas mãos estavam amarradas por exigência da população para que ela não tentasse escapar no momento da execução.

Não havia ninguém no pátio quando eles o atravessaram. Certamente estavam todos reunidos na praça principal para ver o enforcamento dela, Katarin pensou. Era estranho ser inimiga daquelas mesmas pessoas que um dia fizeram parte de sua vida.

Eles caminharam mais um pouco pelo extenso pátio e então Sebastian continuou conduzindo-a até o final do calçamento. Katarin não entendeu. Eles deveriam ter dobrado em direção à praça ao invés de seguir pelo pátio. Mais adiante só havia um beco que dava para a muralha que protegia a cidade.

- Sebastian, para onde está me levando?- ela falou pela primeira vez desde que deixara sua cela.

- Continue andando!- ele sussurrou e Katarin o obedeceu.

Ela logo avistou dois cavalos presos em uma árvore junto à muralha da cidade. Um deles era a sua égua Jocasta que ela tanto adorava. Tinha sido outro dos presentes de Vladimir.

- Jocasta!- Katarin murmurou, feliz em ver o belo animal. Sebastian pegou uma pequena faca de prata e rompeu as cordas que prendiam as mãos dela. Katarin correu a abraçar a égua que relinchou alegre ao ver sua dona. – Sebastian, o que significa isso?

Ela notou que havia uma trouxa de pano amarrada à égua.

- Eu coloquei nesta trouxa uma garrafa de cidra, pão seco, queijo e gogosi, que eu sei que você adora. Coloquei também algumas vestes, um cobertor e um pedaço de sabão quando precisar se lavar.

- Sebastian, quer me explicar o que está acontecendo?- ela insistiu.

- Você ainda não entendeu, garota? Não sabia que era tão lenta assim!- ele a provocou, fazendo-a sorrir. O outro cavalo que estava ao lado de Jocasta era o cavalo dele, chamado Apollo.

- Também consegui pegar seu diário. Tome!

- Sebastian, você está ficando louco! Não pode me ajudar! Vai ser expulso de Brimstone.- disse ela, pegando o diário das mãos dele.

- Vou correr o risco por você!

- Por quê?- ela indagou.

Sebastian pensou um pouco e respondeu:

- Porque eu a amo.

Katarin sentiu o coração acelerar quando ele disse isso. Mal podia acreditar no que tinha ouvido. Ela se aproximou dele e tocou-lhe o rosto com carinho antes de tocar os lábios de Sebastian suavemente com os dela. Foi um beijo casto, terno, que não demorou mais do que alguns segundos. Mas era o beijo do qual Katarin lembraria para sempre.

- Hey, não precisa bancar a sentimental comigo.- disse Sebastian, tímido sobre o beijo que tinha recebido. Katarin riu. – Agora vamos, não temos muito tempo! Eu vou tirá-la da cidade e colocá-la num barco para Gherla, de lá iremos para as montanhas onde você pode se esconder até que seja seguro seguir para outro lugar.

- Jamais vou esquecer o que fez por mim, Sebastian.

- Deixe para me beijar de novo quando estiver entrando no barco.- ele gracejou e ambos apressaram-se a montar em seus cavalos.

xxxxxxxxxxxxxxx

O tempo estava passando e Vladimir não notou nenhum movimento de Sebastian no sentido de ajudar Katarin. Já estava quase na hora dele ir buscá-la para a execução e como resolvera sair de seus aposentos, ele não teria como fugir disso.

Já estava se preparando para o pior quando viu dois dos guardas dos portões de Brimstone adentrando a praça, acompanhados por outros dois homens. Forasteiros. Um deles era muito alto, usava roupas de aristocrata e tinha uma expressão feroz no rosto .

- Você é Vladimir?- o homem indagou.

- Sim.- respondeu ele. – Quem é você?- perguntou Vladimir, se perguntando se agora todos sabiam a localização de Brimstone.

- Eu sou Andrei de Tulcea. Vim de Bucareste a pedido de Lorde Ares de Elrich para levar Lady Katarin Elena, a Viscondessa de Elrich comigo. O pai dela faleceu há dois dias e eu acabei de ser nomeado o novo tutor da filha dele.

Continua...
Ir para o topo Ir para baixo
Renata Holloway
Fãs
Fãs
Renata Holloway


Mensagens : 96
Data de inscrição : 12/01/2010
Idade : 41
Localização : Pandora

O Diário da Lady (NC-17)- Fanfiction inspirada em Bloodrayne. SPOILERS! Empty
MensagemAssunto: Re: O Diário da Lady (NC-17)- Fanfiction inspirada em Bloodrayne. SPOILERS!   O Diário da Lady (NC-17)- Fanfiction inspirada em Bloodrayne. SPOILERS! Icon_minitimeSeg Jan 18, 2010 7:41 pm

Capítulo 1- Dívida de Honra

Bucareste, Romênia

Agosto de 1708


Lorde Andrei de Tulcea estava junto a uma das janelas de sua imensa fortaleza naquela manhã cinzenta de agosto em Bucareste, observando a profusão de montanhas ao redor de seu castelo e as casas dos camponeses na vila, bem abaixo de sua propriedade, mas ainda parte de suas terras.

Era ainda muito cedo para bebidas alcoólicas, mas mesmo assim ele degustava uma dose generosa de conhaque que havia sido trazida por um de seus criados há alguns minutos. Andrei estava aborrecido. Uma das plantações de trigo em sua vasta propriedade havia sido incendiada na noite anterior e dois camponeses tinham morrido no incêndio. Aquilo tinha sido uma afronta pessoal contra ele. Sabia disso. Tinha muitos inimigos na Romênia e eles não descansariam enquanto não o destruíssem.

Não que aquele incêndio pudesse desgraçá-lo financeiramente ou ainda socialmente. Andrei gozava de muito prestígio na sociedade romena e era respeitado pelas autoridades locais. Há poucos meses, o príncipe em pessoa havia oferecido a ele um cargo vitalício no Conselho dos Aristocratas, mas Andrei não estava interessado. Ele apreciava sua vida reclusa no Castelo de Tulcea, e participava das atividades políticas e sociais na sociedade apenas quando lhe convinham, e também porque precisava de publicidade pessoal de vez em quando.

Lorde das Sombras, assim o chamavam. Isso porque ele raramente aparecia na cidade ou na vila à luz do dia, e quando o fazia, preferia os dias chuvosos e cinzentos. Todos se perguntavam em Bucareste, porque Lorde Andrei de Tulcea, o homem mais rico da cidade, com um título de nobreza que provinha de gerações de excelente linhagem ainda estava solteiro.

- Ele não deseja continuar seu legado?- diziam alguns. – Lorde Andrei não quer ter que dividir sua vasta fortuna com uma esposa?- diziam outros. – Lorde Andrei não aprecia as damas?- exageravam mais outros.

Mas a verdade, é que bem ou mal, todos falavam sobre Lorde Andrei e havia um exagerado fascínio sobre tudo o que dizia respeito a ele. As moças casadoiras da nobreza não desistiam de tentar conquistar-lhe o coração quando dançavam com ele nos bailes ou conversavam com ele nos saraus da corte. Insinuavam-se para ele, davam-lhe presentes, como lencinhos bordados e laços de fita de seus cabelos, e às vezes debulhavam-se em lágrimas dizendo amá-lo à agonia.

Andrei não se importava com aquilo, e quando toda aquela atenção não o aborrecia, ele até conseguia divertir-se diante do cinismo daquela sociedade que estava interessada nele apenas por sua fortuna e título de nobreza.

Ele estava pensando em que providências deveria tomar a respeito do incêndio na plantação quando Adrianno, seu secretário e talvez o mais próximo de um amigo que Andrei possuía, bateu à porta de seu escritório particular.

- Entre!- disse Andrei. Ele sabia que era Adrianno. Conhecia cada funcionário de seu castelo somente pelo barulho dos passos ou a forma com que batiam em sua porta.

- Com licença, mestre.- disse o secretário respeitosamente.

- Espero que não tenha mais nenhuma notícia ruim para me dar esta manhã, Adrianno.

- Não sei ao certo, mestre Andrei porque vim apenas trazer-lhe esta missiva que um mensageiro vindo de Gherla acabou de trazer. O homem viajou a cavalo dois dias e duas noites sem parar para trazer-lhe isso.- ele estendeu a carta lacrada ao patrão. – Agora ele está esperando por sua resposta, e só irá embora depois que a tiver.

- Espero que tenham dado alguma comida e bebida para o pobre homem.- disse Andrei.

- Sim mestre, ele está na cozinha agora, aos cuidados de Madame Gertrudes.- o secretário fez uma pausa. – O senhor deseja que eu espere pela resposta aqui ou que eu o deixe em sua privacidade para responder quando lhe aprouver?

Andrei balançou a cabeça negativamente.

- Não, prefiro que você fique aqui e espere.- disse ele, checando o remetente da carta. – Seja lá o que for que Ares de Elrich queira comigo, desejo responder a ele o mais rápido possível.

- Como queira, mestre.

Lorde Andrei retirou uma faquinha prateada de um pote sobre sua escrivaninha e rompeu o lacre de cera vermelha da carta antes de iniciar sua leitura silenciosa.

Gherla, 25 de julho de 1708.

Se estás lendo esta mensagem agora, Andrei de Tulcea, é porque me encontro morto. Os bastardos de Kagan devem ter enfiado uma estaca em meu coração ou decepado minha cabeça com uma espada amaldiçoada.

Pois bem, serei sucinto contigo e não tomarei de teu tempo mais do que o necessário. Bem o sabes que tens uma dívida para comigo. Dívida essa estabelecida por nós dois nos campos de batalha de Isaccea há dez anos atrás. Sabes bem o que fiz por ti, e que me prometestes ajudar no que eu precisasse não importava quanto tempo se passasse, anos ou séculos.

A situação na Romênia tem sido catastrófica desde que Kagan se levantou contra todos nós. Tenho planos de derrubá-lo do poder, mas é óbvio que existe a possibilidade de não alcançar meu intento, portanto, temo que com a minha morte e a não concretização de meus planos, minha filha única, Lady Katarin Elena de Elrich, que no momento vive sob a proteção da Sociedade Secreta de Brimstone, seja prejudicada.

Eu a incluí em meus planos e desejo fazer dela uma líder entre os humanos. Mas se meu plano falhar, Katarin ficará totalmente desprotegida e não creio que Vladimir de Brimstone irá perdoar algo que ele considerará como uma traição.

Sendo assim, o que desejo que você faça é ir buscar minha filha em Brimstone antes que seja tarde demais. Mantenha-a com você em segurança e consiga um casamento vantajoso para ela em Bucareste. Assim, ela estará protegida contra os lobos de Brismstone.

Mas antes, vá até minha casa em Gherla e procure meu secretário. Ele lhe passará todos os documentos pertinentes à minha fortuna que deverá ser repassada a Katarin, incluindo o dote que tu deverás pagar ao futuro marido dela. Junto com esses documentos, obviamente, saberás onde minha fortuna está guardada.

És a única pessoa em quem confio, Andrei de Tulcea. És o homem mais nobre e honesto que conheci em vida. Estou confiando para que cuide da pequena Katarin e que a salve da ruína da qual eu mesmo a coloquei. Não sabes o quanto sinto-me culpado por envolvê-la dessa maneira em meus planos, mesmo fingindo a todos que não tenho nenhuma estima por minha filha.

Não sei se ela um dia me perdoará pelo que fiz, mas diga-lhe que a amo. Meu secretário também lhe entregará junto com o que ordenei, uma carta de despedida que escrevi para ela. Certifique-se de que Katarin a receba.

Sem mais delongas, me despeço.

Ares de Elrich

- Maldição!- Andrei bradou ao terminar de ler a carta e bateu com o punho direito na mesa de madeira. Adrianno não se abalou com o gesto do patrão, já estava acostumado às crises de ira dele.

- Más notícias então, mestre?- ele ousou perguntar.

- As piores possíveis!- disse Andrei. – Certas dívidas nunca deveriam ser cobradas, principalmente da maneira como Elrich está me cobrando agora.

- Oh!- exclamou Adrianno, surpreso. – Ele finalmente decidiu cobrar a dívida?- indagou o secretário que era a única pessoa a par do acordo que existia entre seu mestre e Lorde Ares de Elrich.

- Sim, ele está me cobrando agora e você sabe muito bem que não posso dizer não. Jamais quebrei uma promessa.

- Que resposta devo levar ao mensageiro então?

- Diga-lhe que sim! Apenas isso e depois, meu caro, mande preparar minha carruagem. Partiremos para Gherla em uma hora, e diga à Eleanor que se apronte porque ela irá conosco.

- Sim, mestre.- disse Adrianno deixando o escritório dele.

Andrei voltar a olhar pela janela pensando no quanto o pedido de Elrich tinha vindo numa hora tão inconveniente. Arranjar um casamento para a filha dele? O homem só poderia ter enlouquecido, e agora ele estava morto, não poderia ser confrontado sobre isso. O que ele estava pensando? Desafiar Brimstone? Tomar o poder? Talvez Elrich não fosse melhor do que Kagan, e Kagan também já estava morto, ele ouvira dizer duas noites atrás enquanto degustava uma bebida em uma taverna de péssima reputação. Tinha por hábito freqüentar tavernas humildes onde poderia encontrar todo tipo de gente e ouvir todo tipo de conversas. Era importante estar informado sobre o que acontecia. E informações como aquela, ele não obteria nos saraus e bailes da corte romena.

Agora ele teria uma mocinha mimada para cuidar. Ótimo! Era tudo o que ele precisava. Acaso Elrich tinha se esquecido de que ele era um devorador de garotinhas? Andrei acabou rindo do próprio pensamento. Ele nunca fizera mal a nenhuma mocinha da corte ou à filha de algum camponês. Mantinha-se isolado o bastante para mantê-las em segurança. Mas seria muito diferente ter uma delas sob seu teto e sua proteção.

Decidiu que cuidaria daquele assunto com rapidez e a frieza de que era capaz. Quanto mais cedo resolvesse o problema, mais rápido se livraria daquele fardo e poderia retomar sua vida solitária e satisfatória novamente. E sua dívida com Ares de Elrich estaria paga para sempre. Andrei jamais ficara devendo nada a alguém, mesmo para um morto.

xxxxxxxxxxxxxx

Brimstone

Todos os olhos no amplo salão estavam voltados para Katarin. Olhos acusadores. Ela sabia que ninguém teria misericórdia pela vida dela naquele julgamento que estava prestes a se iniciar.

Vladimir fez com que Katarin se sentasse na cadeira dos réus, encostada a uma das paredes de pedra que revestia o salão. As pessoas tomaram seus assentos para assistir ao julgamento que seria conduzido por ele. Brimstone discutiria os atos de Katarin, as testemunhas seriam ouvidas e então ela teria a chance de se explicar. Ao final disso tudo, o júri composto por seis líderes da comunidade daria seu veredicto, porém caberia a Vladimir dar a sentença final.

Sebastian postou-se de um dos lados de Katarin, e Marcus, um dos guerreiros de Brimstone postou-se do outro. Katarin sentiu-se pressionada entre os dois homens, mas não ousou fazer nenhuma objeção sobre isso. Vladimir deu início ao julgamento:

- Homens e mulheres de Brismtone!- começou ele. – Há poucos dias fomos submetidos à uma terrível provação. Nossa sociedade foi invadida pelo inimigo porque Katarin de Elrich nos denunciou, nos traiu e quase nos aniquilou. Mas sobrevivemos a isso!

Algumas vozes exaltadas de concordância foram ouvidas no salão e Vladimir pediu silêncio para continuar.

- Todos aqui sabem o quanto eu aprecio a lealdade acima de tudo. Desde que assumi a liderança da sede de Brimstone em Gherla há dez anos atrás só temos tido vitórias e poucas baixas. O incidente com Katarin foi algo isolado. Ela era minha protegida. Uma menina a quem eu cuidei e treinei para ser uma guerreira dentro da nossa sociedade, mas ela escolheu nos trair e agora precisamos puni-la pelo que fez.

- É isso mesmo!- gritou um homem.

- Isso aí!- gritou uma mulher e mais vozes de encorajamento pelas palavras de Vladimir foram ouvidas.

- Ela merece morrer!- disse uma senhora idosa fitando Katarin com desprezo. – Katarin de Elrich não merece nosso perdão, muito menos nossa misericórdia!

Katarin sentiu um estremecimento involuntário em seu corpo quando a mulher falou sobre sua possível morte e a ela se seguiram mais vozes bradando que Katarin de Elrich merecia morrer. Mas ela se manteve imóvel, de cabeça erguida, pronta a aceitar qualquer tipo de punição que lhe fosse dada. Há muito a esperança a abandonara. Seu pai não viria buscá-la. Ele a deixaria ser enforcada por traição em Brismtone. Jamais deveria ter confiado nele. Ares de Elrich era um vampiro e em seu íntimo Katarin nunca aceitara aquele fato.

- Para chegarmos a um veredicto, precisamos discutir os acontecimentos.- lembrou Vladimir. – Portanto, não iremos anunciar a morte de Katarin. Não ainda.- ele olhou para ela de soslaio e Katarin teve um novo estremecimento. Dessa vez, Sebastian notou o quanto ela estava com medo e sentiu pena dela.

Ela havia sido sua melhor amiga desde o dia em que ele chegara à Brimstone. De alguma forma, Katarin cuidara dele ali dentro e o ajudara a superar a perda dos pais. Ele ainda não podia acreditar que ela tinha sido capaz de fazer algo tão vil contra Brimstone.

- Vamos às testemunhas!- disse Vladimir. – Eu chamo Thadius para depor na tribuna.- ele anunciou e um homem de estatura baixa, trinta e poucos anos de idade, usando uma túnica surrada e um colar com o símbolo de Brimstone no pescoço, subiu à tribuna das testemunhas.

- Thadius, quando foi a última vez que viu Katarin?- indagou Vladimir. – Lembro a você que deve dizer somente a verdade.

Ele assentiu e respondeu à pergunta olhando fixamente para Katarin.

- Há alguns dias atrás.- respondeu ele. – Eu estava no posto de vigilância na noite da invasão. Quando vi as embarcações dos homens de Kagan se aproximando da fortaleza de Brimstone, avisei imediatamente aos soldados e deixei meu posto para tomar um barco e avisar a você na cidade sobre o que Katarin havia feito. Foi quando eu vi Katarin falando com Sabina. Katarin exigia que ela traísse Brimstone e jurasse fidelidade ao pai dela, Ares de Elrich, um vampiro! Sabina jurou que não faria, que preferia morrer, foi então que Katarin sacou de sua espada e a usou contra Sabina. Katarin queria matá-la!- Thadius alteou a voz e um alvoroço começou no salão. As pessoas falavam ao mesmo tempo e gritavam impropérios contra Katarin. Ela nada dizia, estava tentando projetar sua mente para uma época distante onde fora muito feliz com seu pai. Uma época em que ela acreditava que a felicidade existia e que sonhos podiam se realizar.

- Silêncio!- pediu Vladimir, enérgico e todos voltaram a se acalmar. – Obrigado, Thadius. Isso é tudo!- ele agradeceu ao homem e este se retirou, fazendo uma pequena reverência para a platéia que assistia ao julgamento.

Vladimir continuou poucos minutos depois.

- Agora eu chamo para depor, Rayne, a damphir.

Os olhos azuis de Katarin se alargaram ao ouvir aquele nome e ela se ergueu de sua cadeira para protestar pela primeira vez desde que havia sido trancada em uma cela.

- Uma vampira vai depor contra mim, Vladimir? Você permite esse tipo de coisa em Brimstone agora? Já não basta o fato de permitir que uma vampira viva entre nós!

- Cale-se Katarin!- disse Vladimir. – Ainda não é o seu momento de falar, e você perdeu totalmente o direito de opinar sobre coisas pertinentes à Brimstone quando decidiu nos trair.

As palavras de Vladimir foram aplaudidas e uma nova enxurrada de mal-dizeres contra Katarin recomeçou. Ela voltou a ficar calada. Sentiu os olhos arderem devido às lágrimas que ela vinha contendo, mas não chorou, Não choraria na frente daquela multidão que estava prestes a devorar-lhe o fígado, ou o que era pior, sugar-lhe o sangue.

- Eu chamo Rayne, a damphir para depor!- gritou Vladimir. Mais uma vez sua voz sobrepondo-se à balbúrdia das outras vozes.

Rayne ergueu-se de sua cadeira e dirigiu-se à tribuna. Seu olhar para Katarin era acusatório. Katarin quase podia ler a mente dela, que dizia claramente, como você pôde trair sua própria gente?

Assim que ela sentou-e diante da tribuna para depor, um silêncio sepulcral se fez no recinto. Todos desejavam ouvir o que Rayne tinha a dizer sobre a traidora Katarin. Embora ela fosse uma vampira, havia conquistado a confiança de Brimstone muito rapidamente através de seus atos de bondade para com a comunidade. Sendo assim, o testemunho dela seria muito importante e pesaria na decisão de Vladimir quanto à punição de Katarin.

Rayne começou seu discurso antes mesmo que Vladimir lhe fizesse qualquer pergunta.

- Quando eu conheci Katarin, a primeira coisa que pensei foi estar diante de uma mulher forte e decidida, que faria qualquer coisa para defender Brimstone, até mesmo matar porque ela acreditava que eu era uma ameaça. Mas eu estava enganada sobre Katarin, como todos aqui. Sim, ela me via como uma ameaça, mas não contra Brismtone. Ela me via como uma ameaça contra os planos dela e de seu pai!

Vozes alteradas no recinto novamente e Vladimir pediu silêncio. Rayne continuou. Katarin a fitava com ódio agora.

- Eu estava retornando da cidade com Vladimir e Sebastian quando encontramos Thadius na estrada. Ele nos contou o que tinha acontecido, mas foi apenas para mim que ele confessou ter sido Katarin a culpada da invasão contra Brimstone antes de desfalecer porque ele estava muito machucado. Não contei nada a ninguém e retornei à Brimstone. Eu queria poder salvar as pessoas e ver com meus próprios olhos se Katarin tinha sido mesmo capaz de ter feito o que Thadius afirmava que ela tinha feito.

Nesse momento, Vladimir fitou Katarin e seu rosto demonstrava uma dor profunda. Uma lágrima rolou dos olhos dela. Rayne ergue-se da tribuna e continuou seu relato dramático:

- Quando eu cheguei à Brimstone, tudo o que eu vi foi destruição! Casas incendiadas, crianças gritando, vampiros tentando violar mulheres, bons guerreiros sendo mortos ao tentar defender o único lar que conheceram. E onde estava Katarin enquanto isso tudo acontecia?

- É, onde ela estava?- gritou uma mulher. – Meu filho foi morto pelos homens de Kagan!

- Maldita Katarin!- gritou um homem.

- Merece morrer!- o coro recomeçou, mas a voz de Rayne se interpôs.

- Katarin estava no subsolo do castelo de Brimstone! Ela estava tentando extraviar a relíquia que nossa sociedade vinha guardando há séculos! O coração do vampiro Beliar!

Katarin levantou-se de sua cadeira nesse momento e gritou:

- Você não pertence à Brimstone, sua maldita vampira!

- Sente-se Katarin!- ordenou Vladimir e Sebastian fez com que ela se sentasse novamente.

Rayne não parecia nem um pouco abalada com o que Katarin tinha dito.

- Katarin queria furtar o coração de Beliar para dar a seu pai, Ares de Elrich. Um vampiro que desejava ser mais poderoso que qualquer outro! Ele dominaria a Romênia e faria de Katarin a ditadora dos humanos. Quem ousasse desobedecê-los, seria morto. Foi exatamente isso que eu a ouvi dizer antes de me atirar no fosso com ela e recuperar o coração de Beliar. Verão que não estou mentindo quando as próximas testemunhas entrarem!

Depois do discurso de Rayne, as pessoas estavam mais inflamadas e exigiam a execução de Katarin. Sebastian temia pela vida dela e tentava ler nos olhos de Vladimir sobre qual seria seu veredicto final, mas o rosto de seu líder era uma incógnita.

Os cúmplices de Katarin em Brimstone foram trazidos logo em seguida. Todos confessaram sua participação nos planos dela, mas também foram unânimes em admitir que a obedeceram porque estavam com medo.

Ao final do testemunho deles, Vladimir deu logo seu veredicto. Esses homens seriam banidos de Brimstone para sempre. Jamais deveriam voltar e se caso o fizessem, seriam mortos sem nenhuma piedade.

A decisão agradou às pessoas no salão que bateram palmas quando os homens se retiraram. Porém, eles ainda ansiavam por sangue, o sangue de Katarin de Elrich.

- Companheiros de Brimstone!- disse Vladimir para calar as vozes exaltadas depois do veredicto dos cúmplices de Katarin. – Eu entendo o quanto tudo isso é difícil para vocês, especialmente aqueles que perderam entes queridos durante a invasão de nossa fortaleza, mas é necessário que escutemos Katarin antes que eu proceda com o veredicto final.

As pessoas se calaram e todos os olhares no salão se voltaram para ela. Katarin sentiu um embrulho no estômago.

- Fale Katarin! Estamos ouvindo.- ordenou Vladimir.

O embrulho no estômago transformou-se em ondas desagradáveis que lhe subiam à garganta e ela sentiu que vomitaria. Mas ainda assim, conteve-se e erguendo-se de sua cadeira, falou:

- Eu só quero dizer que reconheço que cometi um erro muito grave contra as pessoas a quem jurei proteger. Sei que não há nada que eu possa fazer para me redimir, mas ainda assim peço o perdão de todos aqui. O perdão dos homens, mulheres e crianças de Brimstone. O perdão de nosso líder Vladimir.- a voz dela embargou um pouco quando ela pronunciou o nome dele. As pessoas continuavam em silêncio e ela decidiu terminar seu discurso: - Apesar de estar pedindo perdão a vocês, não implorarei por minha vida e não tentarei justificar o que fiz, apenas suplico que não confiem nos vampiros. Eles são uma raça maligna e querem dizimar a nós humanos, um por um. Mirem-se no meu exemplo. Eu confiei em um vampiro, meu próprio pai, e agora estou sendo julgada por isso.

As pessoas entreolharam-se, mas dessa vez não gritaram sua morte. Pareciam até um pouco comovidas pelo discurso dela.

- Não tenho mais nada a dizer.- ela voltou a sentar-se, respirando fundo para não passar mal diante de todas aquelas pessoas, mas suava frio. Era uma reação insconsciente, ela sabia. Seu corpo se recusava a aceitar que ela poderia ser enforcada em breve. Um final terrível para a jovem Katarin Elena de Elrich de apenas dezessete anos.

Vladimir suspirou. Chegara a hora do veredicto final e ele sabia que não poderia protelar mais isso.

- Agora que Katarin teve a oportunidade de falar, pergunto ao júri qual é o seu veredicto. Por favor, peço aos seis jurados que se levantem e digam sua decisão.

Um a um os jurados foram se levantando e proferindo suas sentenças:

- Culpada!- disse o primeiro. Katarin engoliu em seco.

- Culpada!- disse o segundo. – Ela deve ser enforcada o quanto antes e que isso sirva de exemplo para os outros.

- Culpada!- disse o terceiro jurado, uma mulher. – Eu devo confessar que me sinto muito mal em mandar Katarin para a forca, mas não posso permitir que uma traidora viva perto dos meus filhos. Eles poderiam estar mortos agora graças a ela.

As lágrimas agora corriam livremente pelos olhos de Katarin. Ela já não estava mais preocupada em disfarçá-las.

- Culpada!- o próximo jurado pronunciou e os dois últimos seguintes concordaram com ele.

Vladimir estava sem saída. Não podia salvar aquela pobre menina enganada pelo pai. Apesar de toda sua mágoa, ele sabia que Katarin fora vítima de Elrich, ele esperava que parte do júri pudesse ter misericórdia por ela, mas todos foram unânimes e mesmo de sendo o líder, ele não podia ignorar isso. Deixá-la viva seria afrontar a comunidade inteira.

Ele lançou um último olhar a Katarin antes de proferir sua sentença. Ela parecia tão pequena e frágil na cadeira dos réus. Inevitavelmente lhe vieram lembranças de quando ela era apenas uma garotinha, com seus lindos e curiosos olhos azuis, empenhada em aprender a lutar para servir Brimstone.

Quando deu seu veredicto, Vladimir tinha lágrimas nos olhos.

- O júri decidiu, portanto que Katarin Elena de Elrich é culpada, e será enforcada amanhã ao cair da tarde.

O salão inteiro irrompeu em aplausos com a decisão de Vladimir.

- Não!- Sebastian murmurou e olhou para Vladimir como se implorasse que ele voltasse atrás.

Ao ouvir a sentença dada por Vladimir, Katarin sentiu o mal estar piorar. Tudo escureceu ao seu redor e ela ficou zonza. Ela tentou se levantar da cadeira, mas caiu pesadamente aos pés de Sebastian antes que conseguisse se erguer.

Continua...
Ir para o topo Ir para baixo
Mah
Fãs
Fãs
Mah


Mensagens : 26
Data de inscrição : 11/01/2010
Idade : 49
Localização : Rio de Janeiro

O Diário da Lady (NC-17)- Fanfiction inspirada em Bloodrayne. SPOILERS! Empty
MensagemAssunto: Re: O Diário da Lady (NC-17)- Fanfiction inspirada em Bloodrayne. SPOILERS!   O Diário da Lady (NC-17)- Fanfiction inspirada em Bloodrayne. SPOILERS! Icon_minitimeQui Jan 14, 2010 2:52 pm

Re... depois de ler essa fic e das montagens... fico só imaginando o dia em que a Mi vai trabalhar com o totoso do Gerard!!!
a fic é MARA!!! perfeituda!!!
nunca achei que iam escrever uma fic de bloodraine e que eu iria gostar!!!

affraid affraid affraid affraid affraid affraid affraid
Ir para o topo Ir para baixo
Renata Holloway
Fãs
Fãs
Renata Holloway


Mensagens : 96
Data de inscrição : 12/01/2010
Idade : 41
Localização : Pandora

O Diário da Lady (NC-17)- Fanfiction inspirada em Bloodrayne. SPOILERS! Empty
MensagemAssunto: O Diário da Lady (NC-17)- Fanfiction inspirada em Bloodrayne. SPOILERS!   O Diário da Lady (NC-17)- Fanfiction inspirada em Bloodrayne. SPOILERS! Icon_minitimeQua Jan 13, 2010 9:59 pm

Disclaimer: Bloodrayne e seus respectivos personagens não me pertencem. Esta fanfiction não possui fins lucrativos.

Categoria: Terror/ Romance/ Sobrenatural.

Censura: NC-17 (Violência, sexo e alguma linguagem e situações impróprias)

Contém spoilers do filme, embora a adaptação e o personagem Andrei de Tulcea sejam criações minhas.

Sinopse: Na distante e misteriosa Romênia do século XVI, o lorde Andrei de Tulcea tem uma dívida a pagar com Lorde Elrich, o único homem de fora de seus domínios que sabe seu maior segredo. Com a morte de Elrich, Andrei é chamado a pagar sua dívida cumprindo uma importante missão, resgatar a filha única do Lorde da lendária sociedade secreta de Brimstone e levá-la para Bucareste onde deve arranjar um casamento vantajoso para a moça e assegurar a continuação da antiga linhagem dos Elrich.

Casting inicial da fic:

Michelle Rodriguez é Katarin de Elrich

Gerard Buttler: é Andrei de Tulcea

Michael Marsden é Vladimir

Jessica Alba é Eleanor

Matt Davis é Sebastian

Kristanna Loken é Rayne

Billy Zane é Lorde Ares de Elrich

O Diário da Lady


Prólogo


Brimstone, 17 de agosto de 1708.

Não vejo razão alguma para minha existência. Eu, Katarin Elena de Elrich, jamais deveria ter nascido. Amaldiçôo o dia em que vim a este mundo e causei a morte de minha mãe. Ela se chamava Angélica, e era um anjo como seu próprio nome dizia. O mais formoso anjo de Bucareste. Todos ao seu redor a amavam. Era como se a cada passo que Lady Angélica de Elrich dava, o próprio sol a acompanhava, querendo banhar-se em sua beleza e benevolência.

Mas então ela se foi, esvaindo-se em sangue e sofrimento ao dar à luz a mim, sua filha. Não houve tempo para que a pobre Angélica pudesse segurar seu bebê ou dar um nome àquela pequena e desgraçada criatura que cresceria sem mãe em um país onde os pesadelos são reais, onde as criaturas da noite podem vir te buscar a qualquer momento e te condenar ao sofrimento da existência eterna.

Meu pai, Lorde Ares de Elrich era um homem bondoso e inteligente, mas a morte de sua bela esposa o transformou em alguém sem vida, sem propósitos. Elrich perdera sua alma antes mesmo de se tornar um vampiro. Foi quando ele decidiu ingressar na sociedade secreta de Brimstone. Ele queria ser um guerreiro e lutar contra o mal que impedia pais de família honestos e trabalhadores de pregar os olhos à noite porque temiam pela vida da esposa e dos filhos. Ele queria ajudar os aristocratas a viverem em paz, a poderem dar seus bailes e saraus sem temer serem assassinados ou transformados em mortos vivos ao deixarem as festas. Foi por isso que fomos viver em Brimstone.

A princípio, meu pai não fez muito caso de mim. Eu era uma menina doente e fraca que todos achavam que não ia sobreviver, mas eu sobrevivi e com isso ganhei o respeito de meu pai e aos poucos, seu amor. Meu pai lutou em muitas batalhas sangrentas por Brismtone e saía sempre vitorioso. Ele me tornou uma guerreira e me ensinou que a única coisa que eu poderia chamar de melhor amigo era a minha espada. Que eu não deveria confiar em ninguém além da lâmina afiada que desde cedo eu carregava comigo.

Então houve uma última batalha na distante Isaccea e pela primeira vez em dez anos lutando por Brimstone, meu pai, o temido Lorde Ares de Elrich foi derrotado. Eu estava em Brimstone quando aconteceu e levei cerca de dois meses para descobrir o que havia acontecido, mas tenho certeza que no momento em que meu pai foi morto, eu pude sentir, foi como uma queimação dentro do peito, eu não conseguia respirar. Eu perguntava a todos se tinham notícias de Isaccea, mas ninguém sabia me dizer nada.

Algum tempo depois, chegou à Brimstone um homem chamado Vladimir. Ele veio acompanhado de mais outros homens e também trazia consigo um garoto sujo, magrelo e muito assustado, que depois eu fiquei sabendo chamava-se Sebastian.

Aquele homem dizia que ele era o novo líder de Brimstone, que Lorde Ares de Elrich havia sido derrotado na batalha em Isaccea. Eu não podia acreditar naquilo. Acho que foi naquele dia que eu comecei a odiar Brimstone, no dia em que eu soube que meu pai morrera lutando por aquela organização, lutando para proteger aquelas pessoas que sequer choraram sua morte.

Vladimir pareceu compreender minha revolta e veio até mim uma noite quando eu recusei o jantar que a Sra. Florina tentava me fazer comer a todo custo. Pequena Katarin, ele disse, de maneira muito gentil. Acaso alguém já lhe disse que possui os olhos mais bonitos de toda a Romênia? Eram os olhos de minha mãe, o único legado que me restara dela, mas eu não estava com humor para ouvir galanteios. Na verdade, era a primeira vez que alguém me fazia qualquer tipo de galanteio. Fui criada para ser um soldado e não uma mocinha fútil que ficava esperando à janela o namorado voltar da batalha. Então respondi, da melhor maneira que pude, colocando para fora todo o sofrimento que a morte de meu pai tinha me trazido. Odeio Brimstone e amaldiçôo este lugar, bradei. Vladimir riu quando eu disse isso e perguntou: És uma bruxa então, pequena Katarin?

Não respondi e ele sentou-se ao meu lado, ficando em silêncio por alguns segundos antes de dizer, queres saber o que realmente aconteceu a teu pai?Não respondi novamente e Vladimir continuou: Teu pai foi desgraçado por uma das criaturas da noite. Foi condenado à solidão eterna, ao desejo incessante por sangue. Até hoje quando me recordo dessas palavras, estremeço. Não consigo precisar o quanto àquela revelação me deixou chocada, mas permaneci fria como gelo, dura como pedra, eu era uma guerreira e precisava ser forte, assim como meu pai me ensinara.

O que pensas disso, Katarin? Vladimir perguntou. Respondi sem hesitar: Penso que meu pai deve ser morto. Vampiros não devem viver. Vladimir sorriu ante a minha resposta e tocou um cacho do meu cabelo. Foi um gesto paternal, o qual acabei aceitando e de fato Vladimir transformou-se num pai para mim e Sebastian depois disso.

Tornar-te-ei uma guerreira! Continou Vladimir. Eu sou uma guerreira, retruquei. Meu pai ensinou-me a manejar minha espada. Sei disso, concordou Vladimir. Mas teu pai, antes de partir para o exílio, disse-me que tomasse conta de você e a transformasse numa guerreira tão poderosa que os inimigos irão tremer à menção de seu nome. Ele quer que você lute por Brimstone, Katarin. Que você honre o compromisso que seu pai foi impedido de continuar cumprindo. Ele quer que você mate as criaturas da noite, que você acabe com os seres responsáveis pela desgraça dele.

Obedeci porque era uma ordem vinda diretamente de meu pai e apesar de ser leal a Vladimir e Brimstone, eu sentia que estava obedecendo ao meu pai e não a ele. Vladimir colocou o colar com o símbolo dos guerreiros de Brimstone em meu pescoço e também me deu mais um presente. Um livro com capa de couro vermelha e páginas brancas. Eu sabia ler. Meu pai me ensinou a ler quando eu ainda tinha cinco anos, o que era um prêmio para uma mulher. A maioria das mulheres na Romênia era analfabetas.

Onde estão as letras e gravuras do livro? Indaguei tentando entender que espécie de presente era aquele. Vladimir sorriu e explicou-me: Isto, pequena Katarin é um diário. Todas as vezes que você se sentir sozinha ou zangada, você poderá escrever neste diário sobre tudo o que a aflige e ninguém lerá estas palavras de desabafo e consolo além de você. Agradeci pelo presente, mas nunca escrevi uma palavra no diário até o dia de hoje. Acho que porque nunca me senti tão perdida e sem rumo em toda a minha vida. Nem mesmo quando meu pai morreu.

Os anos foram se passando e eu fui me tornando o que sou hoje, uma guerreira, uma matadora de vampiros. Odeio os vampiros. Não tenho nenhuma misericórdia por eles ou qualquer tipo de culpa quando enfio minha espada em suas entranhas ou corto-lhes as cabeças.

Sebastian tornou-se meu melhor amigo em Brimstone e por anos alimentei por ele uma paixão secreta. Eu também recebia cartas de meu pai, vez por outra, querendo saber como eu estava indo. De início as cartas eram preocupadas e carinhosas, mas com o tempo, elas foram se tornando sombrias e escassas. E então, um dia elas começaram a retornar, vinham com bastante freqüência. Eram cartas de apelo. Meu pai falava sobre Kagan, um vampiro poderoso e perigoso que pretendia transformar os humanos em escravos e fazer da Romênia, o lar dos vampiros.

Kagan não era uma novidade para Brimstone, é claro. Nós sabíamos da existência dele e há tempos tentávamos encontrá-lo e matá-lo. Mas meu pai estava preocupado porque ele dizia que Kagan havia se apoderado da costela do vampiro Beliar, o vampiro mais poderoso que já existira e que tivera seu corpo desmembrado para evitar que ele ressuscitasse. Foi então que Rayne veio à Brimstone. Como eu a odeio! Uma damphir! Uma espécie de vampira que já nasceu vampira e que por causa disso se diz aliada de Brismtone.

Vladimir deixou que Rayne entrasse em nosso esconderijo e Sebastian apaixonou-se por ela, o maldito! Ele nunca sequer olhou para mim como mais que uma irmã, mas mesmo assim nunca deixei de amá-lo e queria afastar a tal Rayne dele. Uma noite em que ele supostamente ficou vigiando-a em sua cela, eu fui levar um pouco de comida para ele e quando estava entrando no aposento ouvi gemidos e sussurros que me deixaram desnorteada. Eu não podia acreditar que Sebastian estava tendo relações carnais com uma vampira! Aquilo me deixou tão enojada que decidi que faria qualquer coisa que meu pai me pedisse, até destruir Brimstone se fosse preciso, afinal Vladimir já não era mais o mesmo, ele estava perdendo sua força.

Meu pai me contou em uma de suas cartas, que o coração, outra das partes desmembradas de Beliar estava escondida em Brimstone havia séculos. Senti-me traída porque Vladimir nunca me contara sobre isso. Eu sabia que Rayne tinha a parte que faltava, o olho. De alguma forma ela o tinha absorvido. Foi então que tracei meu plano para destruir Brimstone. Meu pai me prometera que eu seria uma líder e que a Romênia estaria a salvo de Kagan se ele pudesse governar.

Aproveitei que Vladimir pretendia levar Rayne à cidade para consertar as armas dela que estavam enferrujadas. Aconselhei-o de que ele deveria levar Sebastian com ele. Como sempre, Vladimir me ouviu e prometeu que o faria para me deixar mais tranqüila. Foi quando Vladimir estava fora que eu agi. Enviei o mapa de Brimstone a meu pai, mas eu não esperava que ele me traísse. Eu esperava que ele mandasse seus próprios homens para Brimstone, mas foi Domastir e os homens de Kagan que apareceram.

Uma batalha sangrenta começou em Brimstone e eu só tinha uma coisa a fazer: pegar o coração de Beliar e entregá-lo a meu pai. Eu teria conseguido se Rayne não tivesse me impedido. Ela quase me afogou no fosso enquanto lutávamos para ficar com o coração. Mas ela me venceu e me trancafiou na mesma cela onde ela estivera presa antes. Estou presa desde então.

Eu soube que não houve grandes estragos em Brimstone com a invasão de Domastir. Nossos guerreiros conseguiram derrotá-los e Rayne, fazendo uso dos membros do vampiro Beliar, derrotou a Kagan, seu próprio pai e assumiu o castelo de trevas dele.

Estou presa há quase uma semana. Tenho sido bem alimentada e também não foi punida, pelo menos não fisicamente. Mas meu julgamento acontecerá em alguns minutos. Foi Sebastian quem me contou. Ele agora me olha de um jeito que é pior do que se tivesse me infringido um castigo físico.

Não posso acreditar no que você fez, Katarin! Disse ele. Você quase destruiu a todos nós. Por pouco mulheres e crianças não morreram pelas mãos dos homens de Kagan. E você ainda foi capaz de machucar Sabina!

Sabina era uma das líderes do conselho de Brimstone. Quando eu pedi a ela que jurasse fidelidade a Ares de Elrich, ela me disse que preferia estar morta. Usei minha espada contra ela, mas pretendia apenas machucá-la, não matá-la. Ela está bem? Peguei-me perguntando a ele. Está viva, mas nunca a perdoará pelo que fez, foi a resposta dele. Sinceramente, Katarin, eu, temo por sua vida. Foi a última coisa que Sebastian disse antes de me deixar sozinha novamente.

Enquanto esperava pelo meu julgamento, decidi escrever no diário que Vladimir me presenteou há dez anos atrás. Se no final de meu julgamento, o júri decidir pela minha morte, deixarei registrada minha triste história. Minha condição humana me impõe o medo natural da morte, mas ao mesmo tempo minha condição de guerreira me diz que não tenho nada a temer ou mesmo perder. Não existe lugar para Katarin Elena de Elrich neste mundo, então por que temer a morte?


Katarin fechou o diário quando ouviu passos vindos pelo corredor de pedra em direção à sua cela. Seu carrasco estava vindo levá-la para o julgamento. Ela tentou limpar as mãos sujas com o nanquim que Sebastian lhe trouxera mais cedo para que ela pudesse escrever. Mas seus dedos permaneceram sujos.

Vladimir entrou em sua cela e lançou-lhe um olhar extremamente ferido quando a fitou. Ele não tinha ido vê-la desde que ela fora trancada naquela cela. O coração de Katarin contraiu-se dentro do peito ao ver aquele olhar. Doeu muito mais que o olhar de Sebastian para ela.

- Levante-se Katarin de Elrich.- disse Vladimir com voz áspera. – Está na hora! Você será julgada sem consideração ou piedade pelo seu crime.

Katarin levantou-se de queixo erguido. Cumpriria seu destino sem lamentações. Ela já esperava por isso.

Continua...

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Esta é a primeira fic que posto aqui. Espero que vocês gostem. Esta história tem sido o meu xodó do momento. Very Happy
Ir para o topo Ir para baixo
Conteúdo patrocinado





O Diário da Lady (NC-17)- Fanfiction inspirada em Bloodrayne. SPOILERS! Empty
MensagemAssunto: Re: O Diário da Lady (NC-17)- Fanfiction inspirada em Bloodrayne. SPOILERS!   O Diário da Lady (NC-17)- Fanfiction inspirada em Bloodrayne. SPOILERS! Icon_minitime

Ir para o topo Ir para baixo
 
O Diário da Lady (NC-17)- Fanfiction inspirada em Bloodrayne. SPOILERS!
Ir para o topo 
Página 1 de 1
 Tópicos semelhantes
-
» The Love That I Never Had - Lost Fanfiction
» Lost 6º temp (spoilers - suposições)
» O Recente promo de Lost, algo familiar?
» Michelle de volta! (spoilers)
» Os primeiros 4 minutos de Lost-SPOILERS!

Permissões neste sub-fórumNão podes responder a tópicos
LOVE MR FORUM :: I LOVE MR :: FANFICTIONS-
Ir para: